Esta escola tem dono
Diga a eles que esta escola tem dono
Há horas em que o homem público tem de sair do conforto do seu gabinete para dizer ao cidadão que ele não está só
Faltou ao governador José Ivo Sartori iniciativa (ou seria coragem?) para mostrar aos bandidos que não são eles os donos da Escola Estadual Erico Verissimo, na Vila Ipê 1, bairro Jardim Carvalho, em Porto Alegre. Em vez de mandar o secretário Luís Alcoba vistoriar o prédio violado pelos criminosos que fizeram dele terra arrasada, Sartori deveria ter ido pessoalmente dizer à comunidade, invocando o espírito de Sepé Tiaraju, que esta escola tem dono. Que o local é da comunidade e que o governo garantirá a segurança de alunos e professores.
Seria uma resposta corajosa instalar o gabinete em meio aos escombros da Escola Erico Verissimo, mesmo que um gesto radical como esse contrarie a autodefinição de "radical da cautela", da qual tanto se ufana. Porque há horas em que o homem público tem de sair do conforto do seu gabinete para dizer ao cidadão que ele não está só. Seria conveniente levar o secretário Wantuir Jacini e todo o primeiro e segundo escalões para uma aula de vida real, mesmo que a escolta da Brigada Militar tirasse um pouco do realismo.
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A escola que leva o nome do maior escritor do Rio Grande do Sul tornou-se um emblema da degradação do espaço público. Não foi a primeira nem a segunda e, se nada for feito, não será a última vez que a Erico Verissimo e seu entorno sofrem as consequências da supremacia do tráfico sobre as instituições. Nas brigas entre facções, a escola acaba sendo obrigada a alterar horários, fechar portas, obedecer ao toque de recolher.
De nada adianta o governo limpar o prédio, recuperar as salas de aula e repor notebooks, máquinas fotográficas e computadores que registravam imagens das câmeras de segurança, se não for capaz de evitar que esse episódio deplorável se repita. O secretário Alcoba diz que está "numa corrida contra o tempo para que a escola possa voltar a funcionar em agosto". Será isso suficiente para que os alunos e professores voltem ao local com um mínimo de tranquilidade?
A resposta dada pelo poder público nos episódios anteriores foi insuficiente. Alcoba diz que o governo estuda incluir as câmeras de vigilância das escolas ao Centro Integrado de Comando e Controle. Três perguntas que o governo precisa responder:
– Por que isso não tinha sido feito até agora?
– Por que a base móvel instalada em frente ao prédio pelo 20º Batalhão de Polícia Militar foi retirada depois de algumas semanas?
– Como garantir a saúde mental de alunos e professores em meio a esse caos?