Escolas sem candidatos

Escolas sem candidatos

Dificuldades afastam candidatos da direção escolar

Em 26 dos 92 colégios estaduais da região, faltam interessados em assumir a gestão escolar.

A situação decorre, segundo a 3ª CRE, da desmotivação da categoria e da maior exigência sobre o cargo nos últimos anos. Sem candidatos, cabe ao Estado definir o diretor de cada instituição no período 2016-2018. Onde há chapa, a eleição ocorre na terça-feira.

Crédito: Ezequiel NeitzkeProva do aperto financeiro, escola Otília Corrêa de Lima vende cachorro-quente para arrecadar dinheiroProva do aperto financeiro, escola Otília Corrêa de Lima vende cachorro-quente para arrecadar dinheiro

A Coordenadoria Regional de Educação (3ª CRE) tenta motivar professores de escolas estaduais a assumir a função de diretor. Das 92 instituições do Vale do Taquari, em 26 sequer foram inscritas chapas para as eleições que ocorrem nesta terça-feira (veja relação na tabela).

De acordo com o coordenador, Nelson Paulo Backes, a partir de hoje, uma comissão eleitoral da 3ª CRE começa a visitar cada escola onde não há interessados pela direção para dialogar com educadores e demais funcionários sobre possíveis nomes. Se surgir algum proponente à direção, ressalta, coordenadoria e Secretaria Estadual de Educação analisarão a nomeação.

Havendo mais de um interessado nessas 26 escolas, serão definidos por critérios de escolha titulação e idade. Caso nenhum nome surja durante as visitas, aponta Backes, Estado e coordenadoria se reunirão para indicar o novo diretor.

“No passado, o diretor era uma figura social, comunitária. Hoje ele precisa ser um gestor da escola, responsável por uma gama de projetos e atribuições.”

Nelson Paulo Backes Coordenador regional de Educação

Na avaliação do coordenador, o desinteresse pelo cargo é reflexo de dois fatores. O primeiro, a desmotivação da categoria em virtude de situações ocorridas ao longo dos últimos anos, entre elas, questões salariais. Além disso, a cada ano, cresce o compromisso e a responsabilidade sobre o cargo. “No passado, o diretor era uma figura social, comunitária. Hoje, ele precisa ser um gestor da escola, responsável por uma gama de projetos e atribuições.”

Uma das escolas sem chapa para as eleições é a Otília Corrêa de Lima, do bairro São Cristóvão, de Lajeado. Há 15 anos na direção, Maristela Demarchi Secco, 51, não pode se recandidatar em virtude da limitação de apenas dois mandatos seguidos.

“O Estado havia mudado essa regra, mas o CPERS derrubou por meio de liminar. Então abri espaço para um substituto e me ofereci para ajudar, mas ninguém se interessou.”

Maristela atesta a maior exigência sobre o cargo nos últimos anos, o que acaba desestimulando a assumir a função. Enquanto em uma prefeitura há um setor específico de licitações, exemplifica a educadora, na escola toda responsabilidade recai sobre a direção. “Associado a isso, o diretor tem inúmeras outras funções, o que sobrecarrega.”

Além disso, destaca a professora, o valor pago pela Função Gratificada (FG) não compensa. “A quantia varia de acordo com o número de alunos. Como temos apenas 200 estudantes, recebo menos do que em muitas outras escolas. Mas o serviço é o mesmo.” Maristela solicitou apoio dos deputados Edson Brum (PMDB) e Ênio Bacci (PDT) para rever o cálculo, mas não obteve êxito.

Cachorro-quente para pagar as contas

Associado a essas questões, diretores escolares precisam buscar alternativas para o baixo volume de recursos repassado pelos governos estadual e federal. Na Otília Corrêa de Lima, a instituição decidiu vender cachorros-quentes para arrecadar dinheiro.

De acordo com Maristela, a medida havia sido adotada há dois anos, durante período de aperto nas contas. Agora, em virtude de novos percalços, foi necessário reeditar a ação. Entre os problemas, está o atraso de duas parcelas por parte do governo federal para custear a alimentação do Programa Mais Educação.

O primeiro mutirão ocorreu em agosto, o segundo em outubro e o outro ontem, quando estimava-se vender 1,2 mil unidades. O dinheiro também servirá para pagar reformas no banheiro. “Conseguimos juntar um bom valor, mas dá bastante trabalho e envolve muita gente.”

Moradora do bairro Americano, Elenice Baseggio soube da ação a partir do filho, que estuda no 1o ano, e aproveitou para contribuir. Ela enaltece a atitude do educandário, que mesmo diante dos percalços busca alternativas. “Querendo ou não, é uma maneira de colaborar com o ensino do meu filho, pois tudo o que for arrecadado aqui, voltará para as crianças.”

Escola sem chapa

Anta Gorda: Sagrado Coração de Jesus e São Carlos
Bom Retiro do Sul: Brasília
Estrela: Vidal de Negreiros, Nicolau Mussnich, 20 de Maio, Estrela e Educação Profissional Estrela
Fazenda Vilanova: Fazenda Vilanova
Lajeado: Otília Corrêa de Lima, Irmã Branca e Moisés Cândido Veloso
Marques de Souza: Ana Neri
Paverama: Boa Esperança e Paverama
Pouso Novo: Pouso Novo
Progresso: José Pretto, Afonso Mathias Ferrari e São Francisco
Putinga: Demétrio Berte
Tabaí: Pedro Rosa
Taquari: Pereira Coruja, Barão de Ibicuí e Júlio de Castilhos
Teutônia: Reynaldo Afonso Augustin e Tancredo de Almeida Neves

Mudanças afetam processo

Uma das situações que prejudicou o processo eleitoral deste ano, avalia o coordenador Backes, a recente mudança no formato das eleições. Em outubro, o governador José Ivo Sartori havia sancionado novas regras para o pleito, nas quais a chapa apresentaria apenas o nome do candidato a diretor.

Mas em novembro a Justiça concedeu liminar ao CPERS vetando as mudanças e mantendo o formato no qual a chapa apresenta diretor e o restante da equipe, como ocorreu em 2012.

“Havíamos montado todo um cronograma e um formato em cima do aprovado pelo Estado e precisamos alterar tudo de última hora”, aponta Backes. Até então, todas as 26 escolas sem candidatos haviam apresentado chapa para as eleições.

A eleição começou ontem por Vespasiano Corrêa, Travesseiro e Sério, pois o calendário escolar nessas cidades segue o definido pela rede municipal. Nos demais colégios, a votação ocorre na terça-feira. A posse dos eleitos será dia 30, em Caxias do Sul.

Contratação emergencial

Começa hoje o período de inscrições para o cadastro temporário de contratação emergencial de professores nas escolas da 3ª CRE. Elas podem ser feitas no site da Seduc (educacao.rs.gov.br) ou na sede da coordenadoria, em Estrela, das 8h às 12h e das 13h15min às 17h15min. O cadastro encerra no dia 18. De acordo com Backes, a medida garante o início do ano letivo de 2016 com todo quadro de professores preenchido.

 

http://www.jornalahora.com.br/cidades/2015/12/11/dificuldades-afastam-candidatos-da-direcao-escolar/




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