Escola é excludente
Escola é excludente, diz especialista em educação sobre dados do Banco Mundial
Para Daniel Cara, da CNDE, desinteresse surge por falta de política educacional
RIO - Em vez de evasão escolar, o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) prefere falar em exclusão escolar para avaliar os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Mundial, que mostram que metade dos jovens corre risco de não se inserir no setor privado por terem perdido interesse pelos estudos. Ele avalia ainda que haverá comprometimento da produtividade, com profissionais pouco qualificados e empregados em vagas precárias.
O que explica esse alto percentual de jovens fora da escola?
O fenômeno é tão grave que muitos autores substituem o termo evasão escolar, que parte do pressuposto que é uma decisão do cidadão, pelo termo exclusão escolar. A política de educação está tão distante de ser realizada em condições adequadas, é tão baixa a infraestrutura, os professores são tão mal remunerados que o próprio sistema vai excluindo o aluno. Vai gerando uma escola desinteressante, penosa, que vai jogando o aluno para fora.
Quais são as consequências desse quadro?
O estudante que não consegue ter uma formação em Ensino Médio dificilmente consegue ter vaga no mercado de trabalho que fuja do trabalho extremamente precarizado, o subemprego. Isso é uma das piores questões do Brasil, que reforça o padrão do salário baixo. (Eles preenchem) vagas que, em situação de crise econômica, são altamente dispensáveis. Esse estudo reforça uma análise que já é tradicional da área de educação de que a escola é excludente, especialmente para os vulneráveis.
O quadro econômico também influencia nesse desinteresse pela escola?
A própria sociedade não consegue gerar postos de trabalho que deem alguma segurança que podem construir uma trajetória. Os últimos estudos da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre trabalho decente mostram que no Brasil acontece um grave quadro de trabalho indecente, o subemprego. Nosso desafio é múltiplo, temos que melhorar a política de educação, mas gerar dinamismo econômico para criar postos de trabalho demandantes de boa qualificação. Temos que entrar num círculo virtuoso de intercomunicação entre educação e economia. Isso só ocorreu na Era Vargas, em alguns momentos do governo JK (Juscelino Kubitschek) e em momentos espasmáticos do lulismo.
Quanto tempo demora para revertermos esse quadro?
Muito tempo. Se colocar nessa conta a situação de jovens adultos em situação de analfabetismo funcional, os que concluíram Ensino Médio, mas não conseguem realizar operações matemáticas básicas ou interpretar textos... Por isso que o Brasil aprovou o Plano Nacional de Educação, que é uma agenda urgente. Estamos muito atrasados, e esse plano está completamente sucateado. As pessoas que já passaram dos 25 anos e não tiveram Ensino Médio dificilmente recuperam. Ainda que seja o país do Paulo Freire, com a melhor proposta de educação de jovens e adultos do mundo, essa política não avança.
Que ações são mais urgentes?
Considerando que em ano eleitoral normalmente as coisas se paralisam, ainda mais agora com a intervenção, pensamos em 2019. Será preciso que os governantes eleitos, tanto no parlamento como no Executivo, façam uma análise sobre quais medidas são necessárias para o Brasil ter algum grau de dignidade econômica, política e social. Vai precisar fazer uma revogação da Emenda Constitucional 95 (que criou o teto de gastos públicos), estudo sobe como implementar o Plano Nacional de Educação via Fundeb. Além disso, rediscutir a reforma do Ensino Médio.