ENEM: “queijo suíço”
ENEM: “queijo suíço” na festa midiática!
Todo ano é a mesma coisa. É hora do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – ganhar a mídia e incentivar a critica ao ensino médio, à escola pública e outras coisas mais. A maioria dos leitores parte do pressuposto de que o dado divulgado autoriza certas críticas feitas. Mas o ENEM tem tantos “furos” que mais se assemelha a um “queijo suíço” na festa midiática.
Uma rápida olhada nas observações que cercam as divulgações já vai mostrando isso. Mas nem sempre os leitores prestam atenção nelas. A manchete comanda a opinião do leitor. Podem-se ler manchetes como “38 escolas em 100 são reprovadas no ENEM“. Uma manchete mais favorável poderia ser o inverso: “62 escolas em 100 são aprovadasno ENEM”: quem define a ênfase?
As notas de advertência mostram a precariedade dos dados. Em um gráfico se lê: “a média não levou em conta a redação”, só as provas objetivas. Em outros um conjunto de “restrições” é apresentado:
“Só são divulgados os dados de escolas em que pelo menos metade dos alunos participaram do Enem. Também é necessário um mínimo de dez alunos participantes. Dessa forma, 60% das escolas públicas brasileiras ficam fora da lista. No Estado de São Paulo, por exemplo, 75% das unidades não tiveram notas divulgadas. A participação no Enem nas escolas particulares é o oposto. Só 23% das escolas privadas do país não atingiram o critério mínimo de divulgação.”
Ou seja, o ENEM não serve para fazer prognósticos e nem comparações entre escolas. É um exame voluntário. Os estudantes fazem se querem ou não. Nas escolas privadas são incentivados a fazer seja pela escola, seja pelos pais, seja pelo ambiente que assinala para eles que é preciso ir para a universidade. Nas escolas públicas isso nem sempre é verdade. Os estudantes não se inscrevem no exame, não é uma necessidade colocada para o estudante que muitas vezes tem uma auto-estima baixa e que não o estimula a enfrentar um exame, entre outras razões.
O INEP divulga nota de escolas com mais de 50% dos alunos presentes no exame. É pouco para se ter uma ideia do desempenho da escola. O PNE fixa 85% para suas avaliações do ensino básico regulares (SAEB). Além disso, pode não haver representatividade nos 50% dos alunos de uma escola que se inscrevem no ENEM. Podem ser todos de maior nível socioeconômico ou de menor nível socioeconômico – em relação à escola original.
40% das escolas participantes têm nível socioeconômico alto ou muito alto e apenas 5% das escolas participantes têm nível socioeconômico baixo e muito baixo.
Enfim: é um dado que só serve, e olha lá, usando de muito boa vontade, para indicar algum desempenho do aluno em determinadas áreas escolhidas para exame.
A média não é média, é média de média. Qual o sentido de se fazer média de “médias de habilidades” de cinco áreas. Como se interpreta esta “meta-média”… Em alguns casos se exclui do cálculo da média a nota da redação do aluno, em outros se mantém. Quatro provas são objetivas, a redação não é.
Mas… deixa-se tudo isso de lado na hora da “festa”. Há que justificar a MP do ensino médio e, portanto, pau no ensino médio e na escola pública. Não é que esteja bom o ensino médio, mas é que a solução apresentada, além de errada, não pode ser justificada a partir do ENEM.
Para comparar escola pública com escola privada, como já se disse incansavelmente, tem que ter controle pelo menos do nível socioeconômico em ambas, fazendo uso de processos estatísticos de certa complexidade. O INEP não realiza ou não divulga tais estudos. Tampouco exige dos fornecedores contratados. No caso do ENEM, com tantos outros “furos” nos dados, talvez não valha a pena mesmo.
Segundo a Folha, 91% das escolas públicas ficaram abaixo da média geral (neste caso, sem a nota de redação). Mas a média não expressa o conjunto dos estudantes das escolas brasileiras que fizeram o ensino médio em 2015, pois é um exame voluntário. E como ela mesma nota, 60% das escolas públicas brasileiras ficaram fora da divulgação por não atingirem o mínimo de estudantes necessários. Ou seja, não faz sentido o dado em meio a tantas restrições.
Com todos estes limites, os dados acima mostram que nossos estudantes melhoraram em Ciências Humanas (de 546 para 555) e melhoraram também na redação de forma significativa (um salto de 491 para 543) em relação ao obtido em 2014. Houve queda em Ciências da Natureza, Linguagens e Matemática. É claro que nem a melhora nem a piora podem ser atribuídas especificamente ao ensino médio, sem levar em conta dificuldades acumuladas que são produzidas ao longo da vida do estudante desde a educação fundamental.
Acesse a apresentação do INEP.
Acesse as informações do INEP.
https://avaliacaoeducacional.com/2016/10/04/enem-queijo-suico-na-festa-midiatica/