EJA e o jeito Marchezan
A EJA e o jeito Marchezan Júnior de destruir a educação sorrindo
por Prof. Alex Fraga
O projeto de desmantelamento da educação pública de Porto Alegre, que vem sendo tocado desde janeiro pelo prefeito Marchezan Júnior e por seu secretário de Educação, tem requintes de genialidade e crueldade. É assombroso o modo como atrocidades são cometidas com ares joviais de “modernização”. Dão uma paulada na população com um sorriso nos lábios e muito blablablá diversionista nas redes sociais e na imprensa.
Vejamos, por exemplo, o caso da famigerada reorganização das rotinas escolares, um atentado ao princípio da gestão democrática do ensino, que revoltou professores, pais e alunos de toda a rede. No papel, foi modificada a duração dos períodos e o horário de abertura das escolas, supostamente com o objetivo de “otimizar” o uso dos recursos humanos e “qualificar” o tempo que os alunos passam na escola. Na prática, o resultado mais revoltante é que Marchezan Júnior conseguiu fazer com que muitos estudantes deixassem de comer merenda na escola, reduzindo esse gasto no orçamento municipal.
Sim! Ao modificar por decreto as rotinas escolares (que tinham sido construídas coletiva e democraticamente ao longo de anos), a SMED de Marchezan Júnior obrigou todos os alunos de cada turno a ocuparem simultaneamente, em apenas meia hora, os exíguos e limitados refeitórios das escolas. Imagine colocar cerca de 500 ou 600 crianças e adolescentes num recinto onde cabem menos de 100 e obrigá-los a receber as refeições, comer e desocupar o espaço em poucos minutos. Como organizar esse pandemônio criado pelo prefeito? O resultado, previsível, dessa medida é que muitos estudantes estão deixando de comer na escola – o que é um problema gravíssimo, pois a nossa rede de ensino, a mais periférica entre as capitais do país, atende famílias de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social, famílias cujas crianças PRECISAM de reforço alimentar para se desenvolverem física e intelectualmente. Mas pra que pobre precisa comer, não é, prefeito?
Agora, numa semana que caiu – oh, vejam que coincidência – justamente no recesso parlamentar da Câmara, Marchezan Júnior desfere três golpes em sequência: corta novas bolsas do programa UNIPOA (destinadas a universitários de baixa renda), acaba com o cursinho pré-vestibular POP e, no dia 20 de julho, dá à cidade um presentão de Dia do Amigo: manobra para acabar com a EJA (Educação de Jovens e Adultos) no município (ou, no mínimo, desidratá-la quase completamente). Tudo isso sem transparência, sem diálogo, sem admitir a medida quando nosso mandato e colegas professores cobraram explicações, que acabaram vindo à tona apenas no dia seguinte à medida tomada, via imprensa.
O modo como a SMED está operando a destruição da EJA segue o altíssimo padrão de monstruosidade e calculismo dessa gestão: oficialmente, não estão acabando com as matrículas. Estão apenas cancelando a abertura de novas turmas em 33 escolas que hoje oferecem a modalidade e concentrando todas as matrículas no CMET Paulo Freire, que fica no bairro Santana, área central da cidade. O discurso de Marchezan Júnior é: “quem quiser continuar cursando a EJA poderá fazer isso, é só ir estudar no bairro Santana, vejam como sou um bom gestor!”
Amigos e amigas, vocês conhecem a realidade da EJA? A Educação de Jovens e Adultos, como o nome indica, oferece o ensino fundamental a pessoas que estão acima da idade regular, pessoas que precisam trabalhar para se sustentar, razão pela qual a modalidade costuma ser oferecida à noite. Imaginem um trabalhador pobre, que more na periferia da cidade (ou seja, a ampla maioria da demanda da EJA) tendo de trabalhar o dia inteiro, para em seguida se deslocar ao bairro Santana para estudar, e em seguida se deslocar de volta ao seu bairro, tarde da noite, provavelmente utilizando mais de uma condução (aliás, o prefeito pretende acabar com o benefício da segunda passagem gratuita, o que complicaria ainda mais a vida desse nosso personagem). A conclusão óbvia a que se chega: um dos objetivos primordiais dessa medida de Marchezan Júnior é induzir as pessoas a DESISTIREM de estudar. Criam-se obstáculos para reduzir demanda, cortar gastos. Pra que pobre precisa estudar, não é?
Esse jeito maquiavélico e cruel de fazer política precisa ser denunciado e desmascarado. Porto Alegre não pode ter uma prefeitura trabalhando em prol do desmonte da estrutura pública de atendimento a quem mais precisa. Só com a conscientização e mobilização da população em defesa dos direitos básicos do cidadão é que faremos frente a esse cruel ataque e a esse vil retrocesso. Nosso mandato está ao lado da população na luta pela garantia dos seus direitos básicos e utilizaremos todos os meios possíveis para reverter essas medidas, o que só conseguiremos com o apoio e com a força do povo de Porto Alegre.
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Prof. Alex Fraga é professor concursado da rede e vereador de Porto Alegre pelo PSOL.