Educação e mudanças
Qualidade na educação em meio às mudanças
Qualidade na educação permite formar profissionais com capacidade de refletir e pensar a sociedade. Permite, ainda, aos sujeitos, direcionar suas ações, não somente reproduzir, mas buscar meios alternativos de trabalho, produção do conhecimento e práticas que considerem a existência ‘real’ de uma sociedade.
Qualidade na educação não é aquela que inclui os pares porque, matematicamente, há uma razão econômica que diz que o sujeito (mesmo com deficiência) é mais interessante quando é qualificado e está inserido no processo de educação e de trabalho. Diferente disso, inclui porque o ser humano deve ser incluído, independentemente de sua condição social, física, intelectual.
Qualidade na educação precede esforço, luta, manifestação, ações garantidoras dos interesses da maioria e isto pode ocorrer de formas distintas. Esforço, sem o qual, estaríamos estagnados no tempo e dependentes (ainda em demasiado) única e exclusivamente de interesses distintos ao bem social. Mesmo nos momentos nos quais não há visíveis e efusivas passeatas e paralisações, há algo contínuo e tão importante quanto. São as práticas do dia-a-dia. É a reflexão crítica junto ao aluno, são os momentos nos quais docentes proporcionam momentos de análise do impacto de sua disciplina em toda conjuntura social, são as reuniões pedagógicas que contemplam a indagação de ‘para quem e para quê se ensina’ e ‘por que se ensina’, é a elaboração de um projeto político pedagógico coerente com as necessidades da humanidade e a valorização da região na qual se encontra determinada instituição educativa, são os conselhos de classe que podem olhar para cada dificuldade elencada como oportunidades de promoção de um processo educativo (cada vez mais) socialmente relevante, são as pesquisas que carregam em sua essência a melhoria da humanidade (e não somente a competitividade cada vez mais estimulada em diversos setores da sociedade, e entre países, empresas, escolas, cidades, estados, equipes esportivas, etc), são os eventos escolares/universitários que buscam mais incluir e prestigiar e menos selecionar e depreciar, é a exaltação (no ambiente escolar) das pessoas que historicamente (de fato) contribuíram de alguma forma com a humanidade (e não a glamourização daqueles que ‘reinaram/dominaram’em determinados locais e época), são as ações (mesmo que tentativas) de reinventar um ser humano cada vez mais humano (por mais que as instituições – das mais variadas – possivelmente não tenham este objetivo), é questionar o sistema visando conquistar ou manter a dignidade dos indivíduos (mesmo que o sistema que necessite ser questionado seja o da própria escola), é entender que a meritocracia é algo relativo (uma vez que partimos de pontos diferentes na nossa caminhada e temos histórias de vida/experiências diferentes uns dos outros), é entender que por trás de cada história de superação dos alunos sempre há um fator humano como força motriz que contribui com mudanças (em especial, quando isso se individualiza e personifica na figura de uma professora ou professor), é compreender que toda mudança positiva demanda tempo, estudo, intenções éticas e união.
Pelo contrário, com uma educação sem qualidade, corre-se o risco de que o ensino das escolas seja pautado por uma reflexão acrítica (se é que podemos chamar de reflexão), de que fechar-se-á os olhos para a relevância de cada disciplina em relação à sociedade. Pouco importará ‘o que’ e ‘para quem’ se ensina, nem mesmo haverá motivo para preocupar-se com o PPP (exceto do uso dele como instrumento de dominação, não de libertação), pouco importará se conselhos de classe e formações continuadas funcionarão para o bem social (contanto que cumpram a função de garantir bons números), as pesquisas poderão (cada vez mais) contemplar a eficiência e eficácia em uma caminhada feita de olhos bem vendados, os eventos poderão continuar dando força para ações de destaque (de alunos bem colocados em rankings), poderão continuar sendo exaltados aqueles que tiveram bastante poder e “construíram” (construir, leia-se, mandou construir) grandes ‘coisas’. O ser humano não precisará cada vez mais se humanizar (basta que o ser humano tenha acesso à tecnologia e consuma esta tecnologia), o sistema não precisará/poderá ser questionado, a meritocracia será a filosofia de vida de muitos (mesmo que seja equivocada), a melhora e crescimento individual dependerá somente (e tão somente) de cada um, por fim, as mudanças poderão ser decididas pelas equipes que estão acima de nós (pois são mais qualificados e estão hierarquicamente empoderados para decidir pelos demais).
Portanto, vale definir o que é educação de qualidade pela influência em direção à conquista de uma sociedade que queremos, não somente por índices despersonificados.