Educação e criminalidade
Baixa educação, alta criminalidade
Em artigo, o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira tece reflexões de como as escolas podem ser o remédio contra a escalada do crime
Nossa sociedade padece de medo por causa dos alarmantes números da criminalidade em todo o País e especialmente no estado de São Paulo. Grande parte desta crescente violência está ligada aos baixos investimentos em educação, bem como à falta de qualidade do nosso ensino.
Com muitas portas fechadas, na família, no convívio social, na escola e no mercado de trabalho, as únicas abertas são a do tráfico de drogas e do crime, onde o jovem encontra uma possibilidade de ganho financeiro, além da sensação de respeito e poder na comunidade.
Uma recente pesquisa realizada no Rio Grande do Sul concluiu que a “violência extrema” caracterizada pelo ato de matar ou ferir, mesmo quando não há reação da vítima, tem sido praticada na grande maioria das vezes por jovens que abandonaram os estudos entre os 11 e 12 anos.
De volta à realidade de São Paulo, recentemente o Ministério Público de Contas denunciou a retirada de mais de 40 bilhões de reais da educação para cobrir o rombo do Fundo de Previdência dos Servidores Públicos. Essa opção do governo paulista demonstra sua total falta de seriedade e comprometimento com uma pasta que deveria ser prioritária em qualquer gestão.
São mais de duas décadas de completo descaso com a educação. É difícil tornar a escola um ambiente interessante para os alunos quando nela temos profissionais desvalorizados e desmotivados, com professores que acumulam mais de 20% de perdas salariais, sem reajuste real há mais de três anos, atuando em escolas onde faltam os itens mais básicos como giz, papel, impressoras, livros e computadores.
Mais grave ainda é sabermos que a verba da merenda é desviada, com a denúncia da participação de agentes públicos, entre os quais deputados, secretários e outros servidores, sem que haja a devida apuração e punição, e consequentemente fornecendo aos alunos a famigerada “merenda seca”, composta de suco e bolacha. E tudo em um sistema de “aprovação automática”, que faz com que ele passe de ano sem que precise se dedicar a aprender.
É inegável: a falta de ocupação é uma porta de entrada para a criminalidade e neste ponto também cabe questionar o abandono de outras pastas como a Cultura e o Esporte. Basta acompanhar as sucessivas quedas no orçamento para entender a negligência do Estado com os nossos jovens.
Mais do que nunca é necessário entender a educação, a cultura e o esporte como componentes fundamentais para se interromper o fluxo de conversão dos jovens à criminalidade.
O ambiente escolar precisa estar em conexão com a comunidade, entender a realidade de seus alunos, assegurar boas condições de aprendizagem e um ambiente inclusivo e saudável, onde os profissionais são valorizados e os alunos acolhidos. É preciso, sobretudo, acompanhar de perto a frequência dos estudantes e, quando houver desistência, mapear as causas e corrigi-las.
Isso somente será efetivo se houver um criterioso acompanhamento e uma cobrança rigorosa de resultados. É preciso ter disposição e propósito para corrigir os rumos, do contrário vamos continuar a ver o governo de Geraldo Alckmin construir presídios e Fundações Casa, verdadeiras “Universidades do Crime”. Assim se dá um ciclo perverso, no qual o Estado se omite na educação e formação do jovem, o coloca em uma instituição que não o reabilita e por fim abastece as fileiras do crime organizado com “mão-de-obra qualificada”. Enquanto isso, a população assiste perplexa e amedrontada a falência da segurança pública, pois a educação está abandonada.
Luiz Fernando Teixeira é deputado estadual PT/SP.
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