Audiência destaca educação de alto desempenho da Finlândia

Representante do Ministério da Educação finlandês explica como o país fez uma revolução no ensino e se dispõe a ampliar parcerias com o Brasil

O sistema educacional de alto padrão da Finlândia foi tema de debate ontem na Comissão de Educação e Cultura (CE). A diretora de Relações Internacionais do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, Jaana Palojärvi, explicou como o país, que até a década de 60 era um dos mais pobres da Europa, construiu um sistema sempre situado entre os primeiros do mundo no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

Jaana Palojärvi disse na audiência coordenada por Cyro Miranda que a Finlândia conseguiu eficiência sem muito dinheiro (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)— Na década de 70, a Finlândia fez uma revolução no ensino. Esta é a revolução que nós precisamos fazer aqui no Brasil — disse Cyro Miranda (PSDB-GO), presidente da CE, que coordenou a audiência.

Jaana destacou interesse em ampliar a cooperação com o Brasil e contou que o sistema educacional começou a ganhar forma na Finlândia quando o país ainda se recuperava da 2ª Guerra Mundial. Há cerca de 40 anos, disse, houve consenso para organizar um sistema de bem-estar social, em que o Estado procura garantir padrões mínimos e igualitários de educação, saúde, renda e seguridade social a todos os cidadãos.

— O bem-estar é levado em conta em qualquer política, inclusive na educação — disse.

No esforço para “aproveitar cérebros”, segundo Jaana, foi iniciada a construção de um sistema educacional público, universal e gratuito. Apesar dos bons resultados, a Finlândia investe moderadamente em educação: 5,6% do produto interno bruto (PIB).

— Construímos um modelo que tem mostrado eficiência sem usar muito dinheiro.
Cícero Lucena (PSDB–PB) defendeu educação em tempo integral nas escolas brasileiras e Cristovam Buarque (PDT-DF) questionou se na Finlândia o Ministério da Educação se concentra mais na educação de base. Jaana respondeu que a pasta é responsável por todos os níveis de educação.

O marco inicial das reformas na Finlândia, segundo ela, foi implantação da escolarização básica pública, universal e compulsória, dos 7 aos 16 anos. A educação infantil, antes dos 7 anos, não integra o sistema, mas os municípios devem oferecer vaga em pré-escola. Mesmo sem obrigatoriedade, creches e jardins de infância são amplamente oferecidos à escolha dos pais.

— O aluno terá acesso a escolas com mesma qualidade, seja na área rural ou urbana — disse a finlandesa.

Capacitação de professores foi um dos pontos de partida

Um grande esforço para a reforma educacional na Finlândia se deu com a capacitação dos professores, segundo Jaana. Há exigência do título de mestre para todas as etapas do ensino médio e do ensino fundamental. Ela contou que os professores são muito valorizados e que os postos de trabalho são bastante disputados, com cerca de dez candidatos por vaga. A remuneração ­corresponde à média dos valores pagos na Comunidade Europeia: de 3.400 euros mensais, para início de carreira, a 3.700 euros, no ensino médio.

Inácio Arruda (PCdoB - CE) citou deficiências no sistema educacional do Nordeste e disse que um piso salarial de 3 mil euros no Brasil ajudaria a manter o professor em uma única escola.

— Os professores brasileiros têm que dar aula em três escolas e, às vezes, em locais muito distantes um do outro.

Tomam seu dia correndo atrás das escolas para poder aumentar o seu salário — disse.

Jaana contou que na Finlândia os professores dão quatro horas de aula por dia e depois eles têm uma carga horária para preparação da próxima aula. Para os alunos, no tempo restante há atividades opcionais, culturais e esportivas.

O bom desempenho, disse ela, seria resultado de metodologia e ambiente estimulante, além da ­qualificação dos professores.

A Finlândia tem 5,4 milhões de habitantes distribuídos em 338 mil quilômetros quadrados. Além do finlandês, o país adota o sueco como segunda língua oficial.

Jornal do Senado