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Fabio Mourão, no Dito pelo Maldito

Sabemos que a literatura inspirou inúmeras vertentes da nossa sociedade, seja nomeando grandes bandas de rock, constantemente adicionando novas palavras em nosso já vasto vocabulário, e, as vezes, até mesmo sendo capaz de prever o futuro com uma precisão assustadora. Mas dá pra imaginar que ela também se faz presente em meio a chagas, transtornos e doenças?

De fato, é bem provável que, fora das aventuras das páginas de um livro, muitos personagens literários fossem parar direto no divã de um psicólogo para tratar seus conflitos, nuances e contradições. No mundo real, esse conjunto de sintomas, seja físico ou psicológico, podem configurar uma síndrome, que não chega a ser necessariamente uma doença, mas são transtornos reconhecidos pela patologia médica que podem infernizar a vida do seu portador. E se olharmos o caso com mais detalhe, não por acaso veremos que muitos desses diagnósticos são definidos por nomes inspirados em conhecidos personagens da literatura.

Síndrome de Pollyanna
A personagem Pollyanna em questão é a jovem protagonista de um romance de Eleanor H. Porter. Órfã, mas contagiada por um incrível otimismo, ela sempre procurava enxergar o lado bom de qualquer situação, por pior que fosse.

Já a enfermidade que leva o seu nome consiste em um otimismo doentio, que leva o portador a arriscar a sua própria vida na crença cega de que ‘nada pode dar errado’.

Há também o ‘Princípio de Pollyanna’, que define pessoas que só conseguem guardar lembranças positivas de seu passado, apagando involuntariamente todas as experiencias negativas da memória.

Síndrome de Peter Pan
Peter Pan é o protagonista da peça teatral “Peter Pan, o menino que não iria crescer” escrito por James Matthew Barrie , sobre um menino que vive venturas fantásticas na Terra do Nunca, e nunca chega à puberdade.

Talvez seja o mais conhecido dos transtornos, justamente por ser considerado um grande mal da vida moderna, e é caracterizado principalmente pela imaturidade do portador. Embora o termo tenha sido aceito pela psicologia popular, oficialmente a síndrome não corresponde a qualquer doença ou distúrbio.

Síndrome de Dorian Gray
O protagonista do romance de Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’,vende sua alma ao diabo em troca da juventude eterna.

A síndrome não é exatamente aceita como uma condição médica, mas a descrição da condição aflige àqueles que também não lidam bem com a ideia do envelhecimento. Algumas das soluções mais procuradas pelos afligidos são as cirurgias plásticas e drogas milagrosas que prometem esconder a passagem dos anos.

Síndrome de Alice
A protagonista de ‘Alice no país das maravilhas’ por Lewis Carroll, mudou o seu tamanho após ter bebido a poção “Beba-me” e comer o bolo “Coma-me”.

Aqueles que sofrem desta síndrome neurológica costumam ver as coisas (e até mesmo suas próprias partes do corpo) maior ou menor do que realmente são, e não há nenhuma poção ou bolo que a faça retornar ao seu tamanho original. Normalmente, a síndrome é resultado de grandes enxaquecas, tumores cerebrais ou abuso de drogas.

Síndrome de Rapunzel
A personagem Rapunzel é a protagonista de um conto de fadas dos Irmãos Grimm, famosa por suas longas tranças que permitiam seu amado a subir na torre em que vivia trancada.

Fique tranquila, a síndrome não é sobre ter adoráveis tranças. É um problema que diz respeito somente aqueles com tricofagia (mania de comer o próprio cabelo) que eventualmente forma uma bola de pelos no intestino, levando a todos os tipos de problemas cirúrgicos, inclusive a morte.

Síndrome de Pickwick
Joe Pickwick é uma criança gorda e narcoléptica citada no primeiro romance de Charles Dickens, “O Diário Póstumo do Clube Pickwick”.

Oficialmente conhecida como Síndrome da Obesidade-Hipoventilação, é uma condição que aflige pessoas obesas com a respiração fraca, resultando em sonolência e dores de cabeça.

Síndrome de Otelo
O protagonista de “Othello” por William Shakespeare, mata sua esposa porque acha (erroneamente) que ela está sendo infiel.

Também conhecida como ‘ciúme delirante’, define o sofrimento daqueles que são obcecados com a fidelidade de seu parceiro(a), apesar de todas as evidências provarem o contrário. Muitas vezes associada ao alcoolismo, distúrbios neurológicos, doenças mentais, pensamentos suicidas e, frequentemente, homicidas.

Síndrome de Munchausen
O protagonista de “As Surpreendente Aventuras do Barão Munchausen” (Rudolf Erich Raspe) é inspirado por uma pessoa real, um oficial de cavalaria alemão famoso pela sua inventividade.

Pessoas com essa síndrome, embora saudáveis, sempre tentam convencer os outros de que possuem alguma enfermidade. Ao contrário dos hipocondríacos, eles realmente sabem que não estão doentes, mas fazem esta cena apenas para chamar a atenção.

Síndrome de Cinderela
A protagonista deste conto de fadas tradicional (popularizado pelos Irmãos Grimm) vive com uma madrasta e suas filhas que tornam a sua vida um inferno.

As crianças que sofrem desta síndrome costumam contar histórias exageradas sobre como seus pais ou padrastos os maltratam. Há também o Complexo de Cinderela, que consiste no medo de independência e o desejo de ser conduzido por outras pessoas.

Síndrome de Huckleberry Finn
O protagonista de “As Aventuras de Huckleberry Finn”, de Mark Twain, é um cara inteligente, que, depois de ter sido educado por um pai bêbado, tem dificuldade em se encaixar na sociedade.

As pessoas que portam esta síndrome são incapazes de tomar decisões e assumir qualquer responsabilidade pelos seus atos. Normalmente, o transtorno é ligado a alguma rejeição dos pais na infância.

E aí, conhece alguém diagnosticado com alguma dessas síndromes? Ou será você que possui uma delas e nunca percebeu?

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