Distância salarial
Dados de 2015 do IBGE mostram que distância salarial entre professores e demais profissionais com nível superior diminui em ritmo lento
Em 2015, um professor que dava aula na educação básica recebia por mês, em média, R$ 2.776 para uma jornada de 40 horas semanais de trabalho. Este valor representava somente 61% dos R$ 4.538 registrados para os demais profissionais com nível superior, de acordo com cálculos feitos pela coluna nos microdados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE na sexta-feira passada. De 2014 para 2015, a distância salarial de professores para os demais grupos até se reduziu um pouco, mas por um motivo nada animador. Todos registraram perda salarial quando considerada a inflação. Os docentes apenas tiveram uma queda menor em relação aos demais.
No entanto, pela Pnad ser uma pesquisa amostral (sujeita portanto a alguma margem de erro), o melhor a fazer é analisar a série histórica. Ela mostra que, em 2002, a distância era muito maior: os professores da educação básica que tinham diploma de nível superior recebiam, em média, 47% do registrado para os demais profissionais. É uma boa notícia, mas, nesse ritmo, não chegaremos nem perto da meta de equiparar os rendimentos dos professores com os demais trabalhadores de nível superior até 2024, conforme prevê o PNE (Plano Nacional de Educação).
Uma questão a considerar nos salários dos docentes é que há muita variação, a depender do nível de ensino. O salário médio de um professor da educação infantil com nível superior em 2015 era de R$ 2.183, ou 48% do registrado para os demais profissionais em outras ocupações universitárias. Se o professor dá aula no ensino médio, onde os rendimentos médios são de R$ 3.355, a distância é menor, pois este valor representa 74% do verificado para os demais profissionais.
Também é possível identificar na Pnad outra característica que torna a carreira docente menos atrativa: o salto salarial entre gerações é menor. Professores da educação básica entre 45 e 54 anos recebem, em média, um salário 31% maior do que aqueles que estão na mesma profissão, e têm entre 25 e 34 anos. Na média das demais ocupações de nível superior, esse aumento entre gerações é de 46%, o que indica que, ao longo da carreira, professores vão ficando ainda mais para trás em comparação com profissionais de outras carreiras universitárias.
Salários baixos afetam o perfil dos jovens que se interessam pela carreira docente. Isso pode ser comprovado por dados tabulados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) no Censo da Educação Superior de 2015. Nos dez cursos de graduação de maior matrícula no país, as maiores médias no Enem dos ingressantes estão nas áreas de engenharia de produção ou civil (552 pontos no exame), direito (540) e psicologia (529). Já as menores são registradas nos cursos de pedagogia (499 pontos), Serviço Social (497) e gestão de recursos humanos (496).
Mesmo sendo uma meta que demandará muitos recursos e poucos resultados imediatos, equiparar os salários de professores aos dos demais profissionais com nível superior no Brasil é dos objetivos mais importantes a serem perseguidos no PNE. Sem isso, continuaremos tendo dificuldades para atrair ou reter mais talentos no magistério.