Desrespeito do Mercadante

Desrespeito do Mercadante

À Direção da CNTE
Confederação Nacional
Dos Trabalhadores em Educação

ASSUNTO: Exigir da Presidente Dilma a imediata retratação pública do Ministro da Educação com pedido de desculpas aos Professores do Brasil, em rede nacional, ou a sua exoneração.

Dirijo-me à Direção da CNTE, na condição de Representante de Base do CPERS e Coordenação da INTERSINDICAL para solicitar urgente encaminhamento de exigência à Presidente Dilma Roussef de imediata retratação pública do Ministro da Educação com pedido de desculpas aos Professores do Brasil, em rede nacional, e caso não o faça, a sua exoneração por gravíssima agressão aos dois (2) milhões de Professores das Redes Públicas do Brasil por ele proferida em entrevista ao jornal Folha de São Paulo. Afinal, a “Pátria Educadora” já sofre demais com o cinismo do Governo Dilma.

Na entrevista, publicada na edição de 28 de novembro, no caderno Mercado 3, à página 9, o Ministro Aloizio Mercadante, ao responder “à analise de economistas de que falta qualidade ao ensino brasileiro”, ao tratar da formação de professores afirmou “Em muitos cursos de pedagogia e licenciatura estamos tendo uma formação teórica interessante, uma reflexão sobre filosofia, a teoria da educação, mas muito pouco de prática de aprendizagem”. Ao que a jornalista Ana Estela de Souza Pinto, editora do caderno Mercado, emendou “O governo federal fará algo para mudar essa formação?” Mercadante respondeu “Estamos trabalhando fortemente para isso. Se nós formássemos os nossos médicos como formamos nossos professores, íamos ter uma crise dramática. Porque, se um médico chegar à frente dos pacientes e começar a refletir sobre a teoria da saúde, sobre ética e saúde, filosofia da saúde, os pacientes morrem. Ele tem que fazer o diagnóstico e dar a terapia”.

O economista Aloísio Mercadante, através de uma equivocada e descabida comparação, faz uma gravíssima acusação aos Professores do Brasil, como se assassinos fôssemos.


Isto é inaceitável! De extrema gravidade! Falo expressando o sentimento de milhares de Professores que já se manifestaram pelas redes sociais.


Se o senhor Mercadante tem por objetivo desmoralizar os 2 milhões de Professores do Brasil, não aceitaremos calados! Somos profissionais com formação de nível superior que muito fazemos pelas condições que nos são proporcionadas pelos governantes, inclusive o governo do qual faz parte.

Afinal, são de conhecimento de toda a sociedade as condições físicas precárias de inúmeras escolas, os parcos recursos didático-pedagógicos da absoluta maioria das escolas públicas e o não pagamento sequer do Piso Salarial Profissional Nacional – PSPN por parte da grande maioria das redes públicas da educação básica do país, cuja complementação cabe ao governo federal.


Tamanha agressão não pode ser naturalizada, ainda mais vinda da mais alta autoridade em educação do país. Ou o Ministro Mercadante se retrata publicamente, ou não pode seguir no comando da pasta de tão estratégica importância para o desenvolvimento humano, social e econômico da Nação.


Ademais, o senhor Mercadante, em sua resposta revelou ignorância, ou profundo desprezo pela formação integral dos Professores ao desmerecer o ensino da Filosofia, da Ética, da História de Educação. Tal pensamento ou é carregado de profunda má fé, ou é típico de imbecis que querem nos fazer entender que o processo ensino-aprendizagem é algo fechado em si, que não estabelece inter-relação com outras ciências para além da Pedagogia. Será que esquece, o senhor Ministro, de que toda a educação brasileira passa por uma mudança curricular orientada pelo princípio da “interdisciplinariedade”, como o próprio ENEM?


O Ministro não é um ingênuo! As suas palavras são de pessoa comprometida com os interesses do “mercado”. Como membro do governo despreza estudo do IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – órgão de assessoramento estratégico do governo federal – que constatou e publicou em seu Comunicado Nº 75/2011 “ Ao gastar R$1,00 em educação pública o PIB aumentará em R$1,85. Enquanto isso, R$1,00 de produtos agropecuários ou oriundos da indústria extrativa de minérios que são exportados gera R$1,4 de PIB para ao país.” E, para os Juros da Dívida ( que consomem quase a metade do orçamento federal) o multiplicador fica em R$0,75 (centavos).


Este senhor perdeu a autoridade moral para dirigir a Educação pública do país! Tanto pelo que externou, quanto pelo fato de o partido que o ministro representa encontra-se atolado em escândalos de corrupção e subserviente aos interesses do grande empresariado, do sistema financeiro e do agronegócio – todos avessos ao público e à maioria do Povo Brasileiro.


A Educação é coisa séria!


Não é mercadoria! É direito constitucional! Um Bem Público!


RESPEITO AOS PROFESSORES!


Porto Alegre, 29 de novembro de 2015.

NEIVA LAZZAROTTO
Representante de Base do CPERS na CNTE
Coordenadora da INTERSINDICAL – Central
Da Classe Trabalhadora

 

Veja a entrevista aqui'

Se Brasil formasse médicos como professores, pacientes morreriam', diz Mercadante




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