Dar autonomia aos professores
É preciso dar autonomia aos professores, diz coordenador do Pisa
Para Andreas Schleicher, da OCDE, momento é de apostar na formação coletiva dentro das escolas
“Precisamos dar mais autonomia aos docentes” e “Devemos favorecer a cultura de colaboração nas escolas". As declarações são de Andreas Schleicher, coordenador do Pisa, principal avaliação internacional de desempenho de estudantes, durante o evento “Competências na Ibero-América”, realizado na capital paulista em 20 de fevereiro.
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Surpreso? De fato, as afirmações sinalizam uma inflexão nas recomendações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que reúne 34 nações desenvolvidas e emergentes. “No passado, colocamos ênfase excessiva no professor como indivíduo”, admite Schleicher. Essa noção levava à conclusão que a chave era apostar todas as fichas na formação de professores. Afinal, eles seriam os principais responsáveis pela qualidade da educação.
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Os resultados mais recentes da avaliação internacional mostram outros pontos importantes. Segundo Schleicher, não adianta ter professores bem formados se o sistema não lhes dá autonomia e se o ambiente nas escolas não favorece a colaboração. A importância desses dois últimos fatores aparece na evolução de países como o Vietnã, que melhorou significativamente seu desempenho no Pisa durante a última década. A seguir, trechos da entrevista com o coordenador do exame, realizada em conjunto por NOVA ESCOLA, o portal Porvir e o jornal Valor Econômico:
A defesa da autonomia docente e da formação colaborativa nas escolas é uma mudança nos pontos de vista defendidos até pouco tempo?
Sim. No passado, colocamos ênfase excessiva no professor como indivíduo e em seu processo de aquisição de conhecimento na formação inicial. E acabamos enfatizando pouco o tipo de ambiente em que os professores trabalham e ensinam. Muitos dos sistemas de educação mais bem sucedidos prestam muita atenção a como os professores colaboram nas escolas, como aprendem uns com os outros, observando aulas, dividindo conhecimento e experiência. Isso é o que distingue uma organização profissional de uma organização industrial.
Qual a diferença?
Numa organização industrial, o chefe sabe tudo e os empregados apenas desempenham tarefas. Numa organização profissional, o conhecimento é criado pelas pessoas que trabalham lá. Aí é que entram os processos de colaboração, em que a autonomia é também muito importante. Autonomia profissional não significa que eu faço o que quero. Significa que faço o que eu sei que é a coisa certa a fazer.
Nesse sentido, há espaço para aulas prescritivas?
Não dou aulas padrão, pois tenho a experiência profissional para julgar qual é a coisa certa a se fazer. Comparando com a medicina, o médico faz um diagnóstico e pensa num tratamento específico para fazer com que o paciente volte a ter saúde. Na Educação, ainda se dá o mesmo tratamento para todos - esperando que os resultados sejam bons. Não é a resposta. Acho que precisamos dar aos professores mais autonomia numa cultura colaborativa para moldar o ambiente de trabalho e ajudar estudantes a avançar.
Isso parece uma mudança de paradigma em relação à ideia de que sistemas de baixo desempenho precisam buscar soluções padronizadas.
Esse tipo de abordagem prescritiva desprofissionaliza a docência. Você torna a docência menos atraente. Se o trabalho de um professor é ler um livro didático, você não vai atrair ótimos profissionais, mesmo que sejam bem remunerados. O desafio é o oposto. Você precisa investir na capacidade dos professores.
Como isso impacta a implantação da Base Nacional?
A nova base curricular do Brasil é uma oportunidade incrível, mas ela só vai acontecer se investirmos na capacidade das pessoas. O pior jeito de implementá-lo é desenvolver planos de aula prescritivos, que determinem o que e como ensinar. A boa resposta é investir na capacidade dos professores para entender qual é a intenção do currículo, qual a ideia por trás dele, e como trabalhá-lo.