Crise do Estado é real
Não adianta espancar os números: a crise do Estado é real
Pode-se criticar o governo pela lentidão em adotar medidas que ajudem o Estado a sair da crise, mas o problema é que RS gasta mais do que arrecada.
Seis meses consecutivos de atraso nos salários não foram suficientes para os servidores se convencerem de que a fonte secou. Uns se agarram a equações mirabolantes para não perder a esperança, outros negam a crise por desconhecimento da realidade e um terceiro grupo trata o problema de caixa como simples disputa política. Esquecem que o problema do Rio Grande do Sul é gastar mais do que arrecada há mais de três décadas e ter esgotado todas as fontes de financiamento do déficit.
Pode-se criticar o governador José Ivo Sartori pela lerdeza em adotar medidas que ajudem o Estado a sair da crise ou por deixar que a conta recaia exclusivamente sobre os servidores do Executivo, enquanto nos outros poderes o funcionalismo recebe em dia e ainda consegue reajuste. Daí a achar que atrasa salários por sadismo vai uma diferença monumental. Qual governante pode sentir prazer em ser fritado em praça pública por não pagar servidores em dia?
Na sexta-feira passada, o governo depositou apenas R$ 980 por matrícula. Desembolsou R$ 320 milhões. Ontem, os servidores da administração direta esperavam receber mais alguma migalha, mas não foram feitos novos depósitos. O pouco que havia em caixa foi reservado para pagar, hoje, a folha das fundações. São R$ 35 milhões para 5,2 mil servidores, que terão o salário integral creditado na conta.
Por que o governo não parcela os servidores das fundações, das autarquias e das estatais? Porque são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho e o atraso implicaria sanções que não estão previstas na legislação que regula a administração direta. Ontem, foram repassados mais R$ 8 milhões para quitar os salários dos empregados da Procergs.
Como o Estado não vive apenas para os servidores, há outros gastos que não podem ser pedalados indefinidamente. Repasses para a saúde, por exemplo. A Justiça bloqueia cerca de R$ 7 milhões por dia para pagamento de medicamentos e requisições de pequeno valor (RPVs). Com o pagamento de juros pela utilização dos depósitos judiciais – que o governo saca até o limite de 95% do saldo – são gastos R$ 5 milhões por dia. Até sexta-feira, serão gastos mais R$ 5 milhões com RPVs, R$ 4,5 milhões com FGTS e férias de celetistas e R$ 2 milhões com o vale-refeição das fundações.