Carta Aberta a Valter Nagelstein

Carta Aberta a Valter Nagelstein

Carta Aberta a Valter Nagelstein

por Francisco Marshall

Valter Nagelstein, tu foste na quinta-feira, 13/10/2016, à escola de minhas filhas (Laura Gobbato Marshall, 23, hoje na Arquitetura-UFRGS, e Heloísa Marshall, 16, no terceiro ano do João XXIII; minha esposa Rovena Gobbato Marshall, professora, lá estava, com Heloísa) para defender teu projeto obscurantista, autoritário, ignóbil e fraudulento, o auto-intitulado escola sem partido. Todos sabemos que o projeto é o contrário do que anuncia: a intrusão de políticos de direita no ambiente escolar, sem qualquer competência técnica, estudo e sem o mínimo de bons propósitos.

Tu deste um show de grosseria e arrogância, interrompendo o debate, insultando, produzindo animosidade, com argumentos sem pé nem cabeça, desinformação e ataques à liberdade e à decência. Uma péssima conduta, manchando o ambiente escolar, onde precisamos de serenidade, civilidade e informação de qualidade, tudo o que tu e teus asseclas não possuem nem no menor grau. Por fim, te retiraste covardemente, sem ouvir o que te cabia, e que faz parte de qualquer debate. Paradoxalmente, provaste que há algo certo em tua causa infeliz, porém em outros termos: precisamos de escola sem políticos, sem partidos políticos que a invadam para contaminar com incivilidade.

O principal resultado desta ação infeliz foi explicitar para muitos tua incivilidade e despreparo. Acho que não sabias que há no João muitos alunos filhos de professores, como meus amigos Jeferson Arenzon, Leonardo Winter, Joana Bosak e o próprio Fernando Nicolazzi, meu colega no Departamento da História da UFRGS, igualmente insultado por ti. Agradares à claque de ignorantes do MBL é muito fácil, adular aquele jornalista analfabeto (e similares), ainda mais simples, mas em meio a gente civilizada a coisa é bem diferente. Perdeste horrivelmente o debate e todos nós perdemos com tua presença.

O que mais me espanta é tu, um Nagelstein, desconheceres que o nazismo prendeu e perseguiu muitos judeus pela acusação de comunismo. Muitos professores judeus foram tirados da sala de aula com a acusação de serem comunistas, e tiveram aquele destino trágico que nós historiadores conhecemos bem, e que pareces desconhecer. À época, falavam do Judische bolschewismus, e era parte forte daquela propaganda odiosa. Tu, todavia, preferes te aliar ao ponto de vista daqueles que perseguiram judeus a poucas décadas, o que já te valeu um apelido indecoroso nesta cidade.

Eis aqui um artigo para ilustrar o tópico:
How important was the idea that Jews were Communists to anti-Semitism in Nazi Germany, de Adwoa Agyei-Ampomah

A educação precisa muito de mudanças, sempre, e tu precisas muito dela. Seria muito oportuno que entrasses na escola com a decência e a motivação de um estudante, e não com esta estupidez agressiva que apenas prejudica o ambiente escolar.

E antes que seja tarde: não há doutrinação comunista coisa nenhuma nas escolas, por mais que gente ignorante considere que estudar História seja o mesmo que doutrinar. Cai na real e vai fazer algo que preste, antes que seja tarde.

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Francisco Marshall, historiador e arqueólogo, professor da UFRGS.

 

http://www.sul21.com.br/jornal/carta-aberta-a-valter-nagelstein-por-francisco-marshall123/ 




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