Brasil ainda vai mal

Brasil ainda vai mal

OCDE: Números mostram por que Brasil ainda vai mal em Educação

País enfrenta problemas como diferenças salariais por gênero e escolaridade, má remuneração de professores e gastos por aluno inferiores à média

Fonte: UOL Educação        24 de novembro de 2015

Gastos por aluno inferiores à média da OCDE (Cooperação e Desenvolvimento Econômico), baixa taxa de pessoas com ensino superior, expressivas diferenças salariais por gênero e escolaridade, má remuneração de professores e falta de computadores. Esses são alguns fatores divulgados por um estudo nesta terça-feira (24) que demonstram por que o Brasil ainda vai mal na área da educação.

Segundo os dados do "Education at a Glance 2015", 14% da população entre 25 e 64 anos tinham ensino superior completo em 2013. O índice é bem abaixo da média dos países da OCDE, que é de 34%. No mesmo ano, 76% dos jovens entre 20 e 24 anos não estavam estudando.

Tal diferença de escolaridade aumenta, e muito, a discrepância salarial entre os brasileiros. Para se ter uma ideia, 60% daqueles que têm mestrado ou doutorado ganham mais que o dobro da média da população ativa no país. Em países desenvolvidos, essa diferença é bem menor: Na Finlândia, por exemplo, é 18% -- a média da OCDE é de 28%.

Ou seja, as vantagens financeiras da pós-graduação são maiores em países com menores taxas de pessoas com esse nível de escolaridade. É o caso do Brasil, Chile, Colômbia, Hungria e México.

Ser homem ou mulher ainda influencia no salário de profissionais com a mesma qualificação. O Brasil, junto com o Chile, tem a maior diferença salarial de gênero entre todos os países e parceiros da OCDE.

Sala de aula
Na sala de aula, os problemas começam já na remuneração dos professores. Os salários iniciais da categoria estão entre os mais baixos entre todos os países e parceiros da OCDE -- inclusive de vizinhos da América Latina, como Chile, Colômbia e México.

A média salarial da OCDE para docentes da pré-escola, por exemplo, é mais que o dobro do que os professores ganham no Brasil. E a diferença só tende a aumentar nos níveis mais elevados de educação.

Outro problema encarado pelos professores é o alto número de alunos por sala. Seja nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, no ensino médio ou no ensino superior, o número de estudantes por professor está acima da média.

Segundo o estudo, salas com menos alunos permitem que os professores gastem menos tempo tendo de administrar a "bagunça" dos jovens. No Brasil, os docentes afirmam gastar 33% do tempo em sala resolvendo esse tipo de problema.

Entre 2003 e 2013, o Brasil teve um dos maiores aumentos no índice do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) que avalia recursos educacionais das escolas. Mas há ainda muito o que melhorar na infraestrutura: em 2012, por exemplo, o país tinha 22 alunos para cada computador, acima da média da OCDE (5 alunos por PC).

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Brasil investe por aluno um terço da média dos países da OCDE

O valor destinado a cobrir um ano de educação de um aluno do ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos) e do ensino médio em 2012 foi de US$ 3.020* no Brasil, o que corresponde a 31,72% da média do investimento dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que foi de US$ 9.518 no período.

Isso coloca o Brasil na 32ª colocação no ranking de investimento por aluno, entre os 37 países com dados disponíveis.

Na educação primária, o valor investido foi de US$ 3.095 por aluno por ano -- contra US$ 8.247 da média dos países ricos da OCDE -- deixando o Brasil na 32ª colocação também neste setor.

Apesar de ainda estar longe do investimento por aluno dos países ricos, o Brasil destinou 5,6% do PIB (Produto Interno Bruto) à educação -- contra a média de 4,7% dos países da OCDE -- e isso o colocou na quinta colocação entre os países que destinam maior percentual do PIB.

O PNE (Plano Nacional da Educação), sancionado em junho de 2014, prevê aporte de 10% do PIB até o ano de 2024.

Esforço brasileiro é maior
Para Chico Soares, presidente do Inep, "o esforço que o Brasil faz é muito grande" em investimentos na área da educação. "Não somos a Finlândia [país rico cuja educação é reconhecida com uma das melhores do mundo]", explica Soares.

O Inep é um instituto do MEC (Ministério da Educação) responsável pelas estatísticas educacionais, como o Censo da Educação Básica, e pelas avaliações, como o Enem e Prova Brasil.

Segundo a nota sobre o país, o Brasil destina 17,2% dos seus gastos públicos à educação, do nível da educação básica à educação superior. Somente México e Nova Zelândia têm percentuais maiores, ambos com 18,4%. Entre 2005 e 2012, a proporção dos gastos públicos aumentou 82% na educação básica.

"Isso é nosso filme [e não apenas um retrato da situação do país]: lá atrás a gente não gastava [o mesmo percentual na área]", diz Soares. "É bom ver o Brasil na liderança [do ranking dos países com investimento percentual do PIB]."

Education at a Glance
Os dados foram divulgados nesta terça (24) no relatório anual da organização sobre a área, Education at a Glance (Olhar sobre a educação, em tradução livre) com dados financeiros de 2012. A pesquisa está dividida em quatro eixos: escolarização, investimento, participação na educação e ambiente escolar.

Participam do levantamento os 34 países membros da OCDE e alguns parceiros, como o Brasil.

*Os valores em dólares foram convertidos usando a paridade de poder de compra

Investimento do Brasil por aluno está entre os piores, segundo OCDE

País gasta US$ 3.441 por estudante da rede pública brasileira, o que corresponde a 37% da média das nações que compõem a OCDE

Fonte: O Globo (RJ)     24 de novembro de 2015

Embora fique atrás apenas do México e da Nova Zelândia na proporção dos gastos públicos destinados à educação, o Brasil, que aplicou 17,2% de todo o orçamento no setor em 2012, está nas últimas posições quando o assunto é o valor investido anualmente por aluno. Foram US$ 3.441 por estudante da rede pública brasileira, do ensino básico ao superior, montante que corresponde a 37% da média dos 34 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de US$ 9.317.

No topo da lista está Luxemburgo (US$ 21.998) e Suíça (US$ 15.859). Atrás do Brasil, apenas México (US$ 3.233), Turquia (US$ 3.072), Colômbia (US$ 2.898) e Indonésia (US$ 1.809). Os dois últimos, assim como o Brasil, não são membros da OCDE, mas, sim, parceiros. Os dados, que fazem parte do relatório “Education at a glance 2015”, elaborado pela entidade para avaliar diversos aspectos da educação no mundo, apresenta os valores de investimento em dólar americano convertido pela metodologia de paridade do poder de compra, que equaliza as moedas via poder aquisitivo, e não pela taxa de câmbio.

Ao comentar a publicação, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Chico Soares, afirmou que os números revelam o “esforço” do país em aumentar o investimento em educação, mas que, na comparação com nações mais ricas, é compreensível que os montantes aplicados pelo Brasil sejam menores:

— É impossível pegarmos um dado e levá-lo para o primeiro mundo. Não posso querer gastar na educação o mesmo que a Áustria gasta. E a saúde, o saneamento, o transporte, a segurança? Estamos gastando um terço (da média dos países da OCDE) porque isso corresponde à nossa situação. Em termos de esforço, estamos avançando.

Segundo a publicação, o gasto público em educação feito no Brasil, em 2012, foi de 5,6% do PIB, patamar “consideravelmente maior que a média da OCDE de 4,7% e a quinta mais alta entre todos os países e parceiros com dados disponíveis”. No entanto, a entidade ressalta uma desigualdade na aplicação do dinheiro. O ensino superior brasileiro recebe 3,4 vezes mais recursos que os anos iniciais do ensino fundamental. Na média da OCDE, esse investimento é 1,8 vez maior.

INVESTIMENTO INSUFICIENTE

A coordenadora-geral do Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, lembra que, apesar de ter um percentual maior de gasto público com educação em relação aos outros países, o Brasil tem uma economia menor ou mais alunos, se comparado com várias dessas nações. Por isso, não há uma relação direta entre esse indicador e a qualidade do ensino. Ela também deixa um alerta:

— Na edição anterior, esse percentual do gasto público era de 19%. Ou seja, o país já investiu mais.

De acordo com o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, esse índice de investimento do PIB ainda não é suficiente. Ele afirma que o relatório da OCDE revela a necessidade de ampliar o gasto para 10% do PIB.

— O Brasil ainda tem uma demanda educacional enorme, precisamos incluir muita gente. O que significa que, se incluir mais alunos sem aumentar o investimento em relação ao PIB, o custo por estudante vai diminuir. Por isso, a luta pelos 10% do PIB para educação é importante, para que tenhamos um investimento que garanta padrão mínimo de qualidade. Qualificar esse custo por aluno é fundamental, daí a importância de implementar o CAQi (Custo Aluno-Qualidade inicial) — explicou. — Mesmo se resolvêssemos os problemas de gestão, o investimento por aluno que temos hoje não garante a educação. E, com a corrupção, isso é pior ainda.

O CAQi é um indicador que mostra qual valor deve ser investido anualmente por aluno na educação básica, considerando insumos materiais e humanos mínimos para garantir um padrão de qualidade no ensino.

Apesar de fatias do orçamento total cada vez maiores para a educação, o Brasil aparece como sexto, entre as nações avaliadas, com a mais elevada proporção de jovens de 25 a 34 anos que não concluíram o ensino médio. São 39% nessa situação. Apesar de ainda elevado, assinala a OCDE, o índice tem caído ao longo do tempo, quando se verifica que, na população brasileira de 55 a 64 anos, 72% não terminaram o antigo segundo grau.

Em alguns estados, a situação é ainda pior. Alagoas, por exemplo, registra 61% de pessoas de 25 a 34 anos sem ensino médio, mesmo índice verificado na Indonésia para a mesma faixa etária. Já no Distrito Federal, 75% da população nessa idade têm o certificado de ensino médio, panorama semelhante ao da Itália e da Islândia, segundo o estudo. Pela primeira vez, a publicação trouxe indicadores locais de alguns países para determinadas variáveis.

No ranking do ensino médio atrelado a programas de educação profissional, o Brasil vai mal, contrariando o discurso do governo de valorização da formação técnica. É o terceiro país com menos alunos nessa modalidade, perdendo apenas para Irlanda e Arábia Saudita. Cerca de 9% dos jovens de 15 a 19 anos matriculados no ensino médio frequentam o ensino profissionalizante no país, enquanto a média da OCDE é de 40%. Chico Soares, do Inep, reconhece que é preciso mudar:

— Antes, o ensino médio servia para ir para a universidade. Agora, que o ensino médio de fato é para todos, a questão da formação técnica se coloca de forma clara, na própria Base Nacional Comum (currículo nacional da educação básica em discussão) e no PNE (Plano Nacional de Educação).

OS ‘NEM-NEM’

Os jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham, conhecidos como “nem-nem”, somam pouco mais de 20% no Brasil, acima da média da OCDE, de 16%. Mas Amapá e Alagoas, com índices em torno de 30%, ficam próximos de países como a Grécia, que tem 28% dos jovens fora da escola e do mercado de trabalho. Santa Catarina (12%) e Rio Grande do Sul (14%) são parecidos com Austrália (13%) e Reino Unido (14%) nesse quesito, mostra o relatório.

Para Ernesto Faria, coordenador-especialista da Fundação Lemann, o alto índice de jovens dentro desse recorte revela uma deficiência recorrente nas escolas brasileiras.

— O ensino médio brasileiro ainda não consegue preparar o jovem para a vida e para o mercado de trabalho. Ele sai da escola e não tem um norte a seguir, não tem bagagem. Se o bom aluno já tem essa dificuldade, aquele que não estava tão interessado enfrenta ainda mais obstáculos — diz. — Mudar isso passa por uma melhora não só no ensino de disciplinas básicas, como História e Português, mas em um foco maior em ensinar os estudantes a serem mais criativos e se comunicarem melhor.

No capítulo dedicado aos professores, a publicação mostrou que os docentes da rede pública, na média da OCDE, recebem 77% do valor médio pago a profissionais com escolaridade equivalente. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mais recente, essa proporção é de 72%. Só na Dinamarca e Luxemburgo, de acordo com o estudo, eles têm salários similares à média das outras categorias.

As dificuldades dos docentes brasileiros também foram medidas no relatório. Seis em cada dez disseram sentir “alta necessidade” de se qualificar para lidar com alunos especiais. A proporção é praticamente a mesma verificada em 2008, de 63,2%. É também elevada a quantidade de professores (27,5%) que se ressentem de treinamento para usar recursos de tecnologia em sala de aula. Pouco mais de 6% reclamam de qualificação na própria área de ensino.

O relatório engloba dados dos 34 membros da OCDE e de mais 12 parceiros da entidade. Mas nem todos têm dados disponíveis para todas as variáveis levantadas pela OCDE. Nesses casos, só são incluídas as informações comparáveis. No Brasil, o parceiro da OCDE para a publicação é o Inep.

 

Leia a reportagem no site original aqui




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