Bomba-relógio na Educação
Aposentadoria engatilha bomba-relógio na Educação
"Estudo do MEC mostra que, nos próximos seis anos, até 40% dos professores do Ensino Médio no país poderão sair das salas de aula, ao optar pela inatividade", afirma jornal
Fonte: O Globo (RJ) 10 de setembro de 2015
No contencioso da Educação brasileira, não são poucos os sinais de que o país vive crise sistêmica no setor. Em 2014, por exemplo, num ranking de 36 países elaborado no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações de maior Índice de Desenvolvimento Humano, o Brasil amargou o penúltimo lugar, levando-se em conta o desempenho de alunos no teste internacional Pisa (que avalia conhecimentos de leitura, matemática e ciências dos adolescentes). Também no ano passado, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostrou que, de 2011 a 2013, o desempenho no ensino médio do país caiu em 13 estados. E é notória a medíocre performance de saber da Universidade brasileira, salvo exceções, na comparação com unidades de ensino superior internacionais.
Em torno desses sinais, em si preocupantes, arma-se uma bomba-relógio: até 2021, cerca de 40% dos professores no ensino médio poderão se aposentar. Essa estimativa, calculada em estudo do Ministério da Educação, sinaliza que, se até agora as demandas relacionadas ao universo da rede de ensino vêm sendo empurradas para a frente, a iminência de uma grande debandada de docentes das salas de aula constitui um risco para o qual não se pode fechar os olhos. Há um colapso no horizonte.
Pode não ser impossível reverter essa tendência, mas os números e a realidade da política educacional do país mostram que essa não será tarefa simples. Até agora, o poder público brasileiro não fez o dever de casa completo nas questões que poderiam ter sido atacadas sem a urgência desse fenômeno. E, se não o fizer logo, o preço a pagar será alto.
Baixa remuneração e falta de condições de trabalho estão entre as principais causas do desinteresse pelo magistério. O problema é que tais demandas costumam ser discutidas quase exclusivamente no âmbito dos interesses corporativos — principalmente a questão salarial.
Governos negligenciam, e sindicatos de profissionais de ensino torpedeiam, por exemplo, quaisquer iniciativas que visem a implantar no sistema a remuneração por mérito, criterioso fator de melhorias dos vencimentos; programas de avaliação de desempenho também são tabu. O resultado terrível do somatório de todas as mazelas é que bons estudantes, mesmo vocacionados, evitam a carreira do magistério. E não há história de sucesso na Educação, no mundo, sem a presença na sala de aula de bons professores.
O estudo do MEC, divulgado domingo pelo GLOBO, contém outros alertas, que agravam o risco de colapso nas salas de aula. Entre eles, o de que o número de formandos em licenciatura vem caindo. São sinais evidentes de que a situação tende a se agravar ainda mais, se nada for feito para mudar a rota dessa curva.