Barrar escola sem partido

Barrar escola sem partido

Por que isto é importante

Somos educadores. Batalhamos todos os dias em sala de aula, muitas vezes sem qualquer amparo. Somos pesquisadores da educação, preocupados em entender a realidade do processo de ensino e aprendizagem e propor novos caminhos.

Somos sempre estudantes. A educação transformadora, que combate preconceitos, que constrói a cidadania, somente se realiza através do debate permanente, pautado no respeito à diversidade. O silêncio, a ausência do debate, somente promove a continuidade da violência e da intolerância. É justamente o processo de silenciamento do debate nas salas de aula em nosso país, em marcha nos últimos tempos, que buscamos agora denunciar e repudiar.

O maior representante de tal processo se esconde na ideologia do projeto ardilosamente chamado de "escola sem partidos". Ardiloso, pois, afirmando querer construir um espaço de respeito à diversidade propõe que tal meta seja atingida suprimindo-se o debate de todas as temáticas consideradas polêmicas das salas de aula.

Enquadram-se em tais temas a política, a religião, gênero e sexualidade, entre vários outros. A justificativa? Evitar discussões ideológicas. E como fazer isso segundo seus defensores? Empregando uma única visão ideológica em todo o ensino, adequada somente aos padrões estabelecidos pelos autores e apoiadores de tal autoritário e inconstitucional projeto.

O absurdo de afirmar querer respeitar a diversidade sem a abertura de um diálogo qualificado nas salas de aula é absolutamente contrário à todas as pesquisas e práticas pedagógicas. A falaciosa ideia de se eliminar supostas imposições de visões partidárias nas salas aula pretende, na verdade, atentar contra a liberdade de ensino, contra a construção de espaços de reflexão crítica em sala de aula.

Sob o falso pretexto de proteger os alunos propõe a mais absoluta censura à apresentação livre do conhecimento científico que deve caracterizar o trabalho em sala de aula. Como estimular o debate e o respeito ao contraditório, ao diverso, se o mesmo não puder ser apresentado aos alunos? O projeto atenta contra as liberdades básicas e contra a própria noção de ensino.

Por tudo isso nos causa a mais profunda indignação que o atual ministro da educação, Mendonça Filho (DEM), receba em seu gabinete os representantes de tal projeto, pessoas sem qualquer vinculação com o trabalho e as pesquisas em educação, inclusive com direito à selfies. Seu mero acolhimento representou para todos que batalham pela qualidade de nossa educação a mais clara demonstração de escárnio da parte do ministro Mendonça Filho. Fomos humilhados e desqualificados justamente pela pessoa que deveria zelar pelos profissionais da educação.

Atentou-se contra os princípios básicos que devem reger o trabalho em sala de aula.  Desrespeitou todos os docentes empenhados em ajudar a construir uma sociedade menos violenta, menos preconceituosa. Comprovou que não possui os elementos mínimos para ocupar tão fundamental ministério, essencial ao futuro de nossa nação.

A única reparação possível é seu afastamento imediato, conjugada com o descarte de tal projeto e outros de igual sentido que já estão à criminalizar o trabalho docente pelo Brasil. É o que exigimos, em nome do resgate da dignidade de milhares de profissionais da educação e de nossos alunos.

Postado junho 2, 2016

 

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