Aprendi com “O Pequeno Príncipe”
Quando menina, eu não tinha muitos livros. Na verdade, até os seis anos de idade não tinha nenhum. Foi aí que alguém presenteou a nossa família um exemplar de: O Pequeno Príncipe.
Assim se deu a minha estreia no mundo sem precedentes da literatura, e do principezinho… Passava horas olhando as letras e namorando as aquarelas do Saint-Exupéry. Minha mãe leu a história para mim e para o meu irmão por diversas vezes. Até que um dia ela emprestou o livro e nunca mais o vimos.
Então, não foi por acaso que, logo que comecei a trabalhar tratei de comprar outro exemplar. Ainda era adolescente quando sublinhei as frases que mais me marcaram e foram inúmeras as anotações no rodapé e nas laterais.
Eu cresci. Envelheci. Mas como tenho alma de poeta, ouso asseverar que a única sabedoria verdadeira é aquela com as cores da infância. O elevado só pode ser visto no simples, no puro, na singeleza daquele que olha o mundo com olhos desprovidos de blindagens e arestas.
Nesse exercício de regressar infâncias, eis as verdades que aprendi:
1 – “Os baobás, antes de crescer, são pequenos.”
Nunca deixar para amanhã a minha faxina interior.
2 – “É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.”
Preciso ter paciência com as minhas próprias limitações até as minhas asas ficarem prontas.
3 – “É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar – replicou o rei. A autoridade baseia-se na razão.”
É desumano exigir do outro a entrega de algo que não lhe pertence. Não posso administrar a posse do outro, muito menos poderia administrar as suas lacunas. Assim, que eu cuide, então, das minha carências!
4 – “Tu julgarás a ti mesmo – respondeu-lhe o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”
Pensar na vida alheia, nas qualidades alheias é uma distração medíocre. Mais vale o autoconhecimento do que ter decorado a biografia de centenas de outros.
5 – “As estrelas são todas iluminadas… Será que elas brilham para que cada um possa um dia encontrar a sua?”
O universo colabora, dando-nos a luz de indizíveis estrelas. Resta-nos treinar a própria visão para que as saibamos enxergar.
6 – “Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás, para mim, único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”
As pessoas se permitem cativar por vontade. Talvez inconscientemente, mas por vontade própria. Quando existe um laço assim, de encantamento construído, nenhum silêncio e nenhuma distância lhe pode vencer.
7 – “A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.”
O homem, na pressa cotidiana, habituou-se à superfície das coisas, dos relacionamentos. Habituou-se à superfície de si. Por isso estamos tão distantes da verdadeira saúde mental. É essa pressa que faz adoecer os homens.
8 – “O essencial é invisível aos olhos.”
Tudo o que vemos é provisório, parcial. Distorcida é a realidade que nos cerca. Aquilo que de fato é ressoa no abstrato, tem vigas invisíveis na alma e não cabe na palma de nenhuma mão.
9 – “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”
A importância do outro não reside no outro. Reside em nossa aptidão interior de dispensar a ele o melhor de nós mesmos. É o nosso coração que faz com que o outro se torne tão especial.
10 – “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Talvez a frase mais famosa do livro. É uma assertiva que dispensa explicação. Toda e qualquer fala seria inútil. Se quiseres compreender, exercita-te. Cativa! E cativa-te primeiro a ti. Só assim dimensionarás a responsabilidade de tudo aquilo que é eterno.
Texto de Nara Rúbia Ribeiro originalmente publicado em Conti outra
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