Aprender com o erro
Erros do secretário da Educação de POA
Começa o ano de 2017. Há problemas em apenas três instâncias: municipal, estadual e federal. A secretaria municipal da Educação de Porto Alegre, sob o comando do professor Adriano Naves de Brito, antecipou o jogo. Cometeu o erro clássico: tomou decisões graves durante as férias e o recesso. Ignorou o princípio fundamental: em educação tudo se decide a partir do diálogo. Mesmo em instituições privadas, como grandes universidades, o espaço da discussão e dos colegiados é grande. Todos os secretários de educação que tentaram ignorar essa lógica quebraram a cara. Adriano Brito está cercado.
Professor da Escola de Humanidades da Unisinos, especialista da obra de grandes filósofos, Brito não ignora que mesmo na instituição onde está enraizado os colegiados e o diálogo são incontornáveis. Não se muda, por exemplo, currículo ou rotinas em faculdades sem chamar para a discussão o corpo docente. Alunos são ouvidos. Uma escola não é uma empresa de parafusos onde o dono manda e acabou. Quem ataca antes de ouvir, baseado na certeza de deter o saber transformador, corre o risco de ser obrigado a recuar para salvar a face. A mídia comprou a ideia de que professores da rede municipal têm um absurdo dia de folga no meio da semana. Tenta ignorar que em certas escolas há uma reunião semanal no período da noite, única maneira de não deixar alunos ao abandono. Nesse dia, são três turnos de trabalho.
Em outras, os professores chegam meia hora mais cedo para dar o café.
Juntar todos os alunos para o almoço não cabe nos refeitórios.
Deixá-los sozinhos significa expô-los a conflitos e, em certos casos, a riscos de saúde.
A lei garante horas de planejamento e preparação das aulas.
Essas horas são compensadas. Professores preparam aulas e corrigem provas e trabalhos em casa. É clássico. Devem fazer isso com as horas dos seus domingos, como, de resto, acontece, ou podem usar meio turno de cada semana para tais atividades na escola ou em casa? Escola não deve ser fábrica do século XIX com feitor de chicote. Tarefas devem ser cumpridas com liberdade e eficiência. Esse é o aspecto mais importante. O plano do secretário Naves é um tiro pela culatra. Quer fazer com que os professores fiquem mais tempo com os alunos? Produzirá o resultado contrário. Crianças e adolescentes fazendo refeições sem acompanhamento de docentes. Aulas mais curtas. Erro.
O esquema Django, atirar primeiro e perguntar o nome depois, só produz desgaste.
O que achava o secretário? Que a comunidade escolar aceitaria calada a sua penada tecnocrática? Mudanças sempre são possíveis. O erro do novo administrador da rede escolar de Porto Alegre não é querer fazer alterações, mas não ter tido a elegância e a postura pedagógica de chamar todo mundo para o debate antes de baixar seus decretos. Bateu, levou. Já dá sinais de querer recuar. Faz bem. Nunca é tarde para saber. Na Câmara de Vereadores, semana passada, mostrou-se acuado e constrangido. O prefeito Nelson Marchezan Júnior deseja acertar. Talvez seja a hora de começar de novo.
O ano só inicia agora. Dá para zerar tudo. Basta por a culpa no calor e no carnaval. O segundo erro, bastante em voga, é considerar que professores são malandros que tentam se esquivar do trabalho. É uma visão preconceituosa.
Numa cidade, porém, em que a Câmara de Vereadores autoriza parcelamento de salários, tudo é possível.
O direito passa a ser visto como privilégio.
Estamos vivendo a pedagogia do retrocesso.