Após ocupação, negociação
Após ocupação do CAFF, governo promete ao Cpers revogar mudanças no difícil acesso
Da Redação*
Após cinco dias de ocupação do Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF) e 34 dias de greve, os professores estaduais conseguiram que o governo estadual cedesse em alguns pontos de suas reivindicações. O Centro de Professores do Rio Grande do Sul (Cpers) considera que, em audiência nesta sexta-feira (17), uma mesa de negociações foi finalmente aberta. Em reunião realizada com o secretário da Educação, Luís Antônio Alcoba, logo após os educadores deixarem o CAFF, o governo assumiu o compromisso de revogar a portaria do Difícil Acesso e não descontar os dias de greve dos professores e funcionários de escola.
A questão do Difícil Acesso era uma das principais pautas dos professores, que encaram a Portaria nº 116/2016 como uma forma de retirar direitos da categoria. A medida permitia que uma comissão examinasse pedidos de enquadramento e reenquadramento das escolas públicas nas condições de Difícil Acesso, ou seja, que existem em locais de risco ou afastados. Os professores que atuam nesses locais recebem uma gratificação específica por seu trabalho.
Na reunião, o Comando de Greve do Cpers também exigiu que o governo apresente um calendário para o pagamento do Piso Salarial e dos reajustes de 13,01% (2015) e 11,36% (2016), além de apresentar proposta para repor a defasagem de 69,44%. “Estamos dando um voto de confiança ao governo. Decidimos sair do CAFF porque o governo comprometeu-se em realmente avançar em nossa pauta. Estamos fazendo, mais uma vez, um gesto em busca do diálogo”, afirmou a presidente do sindicato, Helenir Aguiar Schürer.
Apesar de terem desocupado o Centro Administrativo, os professores reiteram que continuam em greve e o Comando irá se reunir na segunda-feira (20) para avaliar o movimento. “Hoje, finalmente, conseguimos dar início às negociações com o governo. O fim do reenquadramento do Difícil Acesso foi uma grande conquista, pois é a garantia de que educadores não perderão nenhum recurso financeiro, do pouco que já recebem. Nossa greve continua até que a base da nossa categoria sinalize que devemos encerrar”, analisou Helenir.
*Com informações do Cpers
Cpers desocupa Caff e cobra seriedade de Sartori em diálogo com a categoria
Luís Eduardo Gomes
O Centro de Professores do Estado do RS (Cpers) anunciou na manhã desta sexta-feira (17) sua saída do Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), que estava ocupado desde o início da semana por um grupo de cerca de 100 educadores. Segundo a presidente da entidade, Helenir Schürer, a categoria decidiu deixar o local para sinalizar ao governo que está disposta a negociar. A decisão, no entanto, não significa um primeiro passo para o fim da greve, iniciada no dia 16 de maio, segundo Helenir.
Em coletiva, Helenir anunciou que a categoria decidiu, ainda na noite de quinta (16), deixar o Caff às 9h30 após receber a garantia do governo do Estado de que uma nova rodada de negociações entre as partes irá ocorrer às 11h na sede da Secretaria de Educação (Seduc), localizada no próprio Caff. Segundo ela, os professores esperam que o governo cumpra a sua palavra de estar aberto ao diálogo e apresente uma proposta que significa um avanço concreto para as reivindicações da categoria.
“Ontem a noite tivemos uma reunião e decidimos, a partir das 9h30 da manhã, sairmos aqui da do Caff com a garantia de às 11h ter uma reunião com o compromisso do governo de realmente avançar na nossa pauta”, anunciou a presidente do Cpers. “Nós estamos falando mais uma vez um gesto em busca do diálogo, onde fomos incansáveis. Nós aguardamos que o governo realmente venha às 11h para discutirmos e avançarmos nos nossos pontos principais”.
Na tarde de quinta, a juíza Andréia Terre do Amaral, da 3ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central, determinou que os professores que ocupavam o prédio deixassem o prédio. Em caso de descumprimento da decisão, seria aplicada multa diária de R$ 50 mil.
Segundo Helenir, os professores se mobilizaram para entregar o Caff nas mesmas condições que o prédio estava no início da ocupação. “A única coisa que nós não conseguimos deixar igual são os banheiros, porque foi cortada a água no segundo dia de ocupação”, disse a presidente no auditório do Caff, que nas últimas noites tinha sido transformado em dormitório para os professores.
A categoria exige que o governo ao menos apresente um cronograma para reajuste dos salários dos professores – congelado desde o ano passado -, a retirada total da tramitação do PL 44/2016 – que abre as portas para a terceirização da administração de escolas estaduais para organizações sociais (OSs) -, a retirada de portaria que prevê revisão do adicional por difícil acesso para professores que precisam percorrer longas distâncias para chegar no trabalho, a revisão da hora aula – os professores reclama que o governo exigiu o aumento da carga horário em sala de aula desde o início do ano – e a garantia de que o governo não irá descontar as horas extras dos professores grevistas.
Helenir ainda afirmo que a categoria só irá cumprir os 200 dias do ano letivo se não forem descontados pelos dias de paralisação. “Eu tenho certeza que a categoria não trabalhará se não receber”.
Durante a coletiva, diversos representantes do Comando de Greve do Cpers reiteraram que não confiam no governo e que é necessário avançar concretamente na pauta salarial para que uma proposta de encerramento da greve possa ser levada para análise de uma assembleia da categoria, o que não tem data para acontecer neste momento.
“A nossa categoria continua em greve porque o governo não pode continuar pagando o nosso salário de forma parcelada, o governo não pode continuar ignorando a nossa defasagem salarial, que é de 69,44%, e nós queremos também, nessa negociação responsável e respeitosa que o governador ontem disse que se inicia agora, que esses pontos todos sejam tratados”, afirmou.
Na noite de quinta, o governador José Ivo Sartori divulgou uma mensagem de vídeo pedindo para que o Cpers desocupasse o Caff e chamando a categoria para o diálogo.
Quando Helenir foi questionada se há possibilidade de encerrar a greve sem avanços salariais, os professores que estavam ao fundo já se anteciparam para dizer “não”. “A definição do fim da greve sempre será da categoria”, disse a presidente do Cpers. “Em janeiro de 2017, se o governo não mudar a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias], estaremos ganhando menos de 20% do piso. Então, com certeza, ficará insustentável”.
Helenir disse que não viu a mensagem do governador e, quando questionada se é possível acreditar que o governo apresentará propostas concretas para a categoria, respondeu: “A questão salarial é impossível não tratar. Eu ouvi alguém dizer que o governo agora quer uma negociação respeitosa. Não se pode dizer que respeita alguém pagando 30% do que deveria pagar. Eu lembro bem quando o governador sancionou o reajuste para todos os secretários de 64% e disse que isso era condição para ter pessoas de qualidade no governo. Pagando 30% para os professores, nós podemos dizer duas coisas: ou o governo julga que nós não temos qualificação suficiente ou algo está errado. Vamos ter que discutir”.
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