Após o tarifaço
Foco de Sartori agora é a lei fiscal estadual
Legislação em debate prevê limite para gasto com pessoal em caso de crescimento da receita. Piratini defende equilíbrio nas contas, servidores apontam arrocho
Deputados aprovaram aumento do ICMS na madrugada de quarta-feira Foto: Vinícius Roratto / Especial/Agência RBS
Depois de conseguir instituir a previdência complementar para funcionalismo eaumentar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o governo José Ivo Sartori concentrará esforços nas articulações para garantir a aprovação do projeto que cria a lei de responsabilidade fiscal estadual. A proposta, que impõe freios aos gastos com custeio e pessoal nos três Poderes, é alvo de polêmica. O funcionalismo entende que o texto significa congelamento de salários nos próximos anos e pede a retirada da matéria da Assembleia Legislativa.
– É um projeto que entendemos como um dos mais importantes para o futuro do Rio Grande do Sul, como o da previdência. São propostas estruturantes. Se tivessem sido aprovadas no passado, certamente não estaríamos passando, nem governo nem servidores, por momentos tão constrangedores e difíceis como hoje – ressaltou o secretáriogeral de Governo, Carlos Búrigo.
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Chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi não descartou a possibilidade de pedir regime de urgência na tramitação do projeto, o qual prevê que, a cada R$ 100 em receita extra (em relação ao ano anterior), é preciso destinar R$ 75 para custeio e investimentos e reservar no máximo R$ 25 para reajustes salariais. Biolchi disse que a norma vai impedir, por exemplo, aumentos parcelados, o que considera uma das causas do agravamento da crise do Estado. Ele assegura que a regra, se aprovada, não coloca em risco os aumentos já concedidos e ainda não honrados, como temem os servidores. Para os sindicatos, a lei fiscal visa a arrochar salários.
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O Palácio Piratini também estuda novas medidas para atingir o equilíbrio financeiro. A sexta fase do ajuste fiscal está no forno e pode ser apresentada até o final do ano. Na mira do governo, estaria a extinção de órgãos, empresas e departamentos, além da revisão de incorporações de vantagens aos salários de servidores. É consenso no núcleo do Executivo que os ações realizadas até agora, embora importantes, não resolvem a crise financeira do Estado.
– O detentor do relógio do governo é o governador. Temos discutido medidas e esperamos que elas possam ser apresentadas com maior brevidade possível – disse o secretário da Fazenda, Giovani Feltes.
– O governo não deixará de ter atitudes necessárias para buscarmos o nosso objetivo. Mesmo que essas atitudes, em um primeiro momento, sejam antipáticas e que venham a não deixar segmentos internos do governo ou até externos de uma maneira confortável – complementa Búrigo.
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Entre junho e setembro, o Executivo apresentou cinco pacotes de ajuste fiscal, contendo 26 propostas que dependem de aval da Assembleia Legislativa. Dessas proposições, 11 foram aprovadas até agora. A próxima a ir a plenário, na terça-feira, será a que altera as regras de enquadramento das requisições de pequeno valor (RPVs). Conforme Alexandre Postal (PMDB), líder do governo no parlamento, o Piratini não deve encontrar dificuldades para aprovar a matéria, pois "há acordo inclusive com a oposição".
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As RPVs são dívidas do Estado de até 40 salários mínimos (R$ 31,5 mil), decorrentes de processos judiciais e que devem ser pagas no prazo de 180 dias. Acima dessa quantia, os créditos viram precatórios. O projeto do governo prevê que as RPVs sejam limitadas a débitos de até sete salários (R$ 5,5 mil). Com isso, a fila dos precatórios, para os quais o pagamento leva anos, aumentará.
O que está previsto no projeto
Propõe normas para alcançar o equilíbrio financeiro, estabelecendo regras para a limitação do crescimento da despesa com pessoal e custeio para todos os Poderes.
A lei cria mecanismos de controle, estabelecendo que o governo só se pode criar gastos permanentes havendo receita disponível.
Na prática, significa que os chefes dos Poderes não poderão conceder reajustes parcelados, contando com receitas futuras, a exemplo do que fez Tarso Genro, que concedeu aumentos até 2018.
*Colaboraram Bruna Scirea, Bruna Vargas, Fernanda da Costa, Juliana Bublitz e Kyane Vives.
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Na largada do mandato, o Palácio Piratini não encaminhou proposições para a Assembleia Legislativa. Sartori considera como primeira fase do ajuste as medidas adotadas logo no início do governo: redução de secretarias, contingenciamento de 35% dos cargos em comissão no Executivo, reprogramação orçamentária com redução média de 21% do custeio, revisão de contratos com fornecedores, limitação de cedência de servidores, implementação de um modelo de gestão e governança com acordo de resultados, entre outros.
Parte dessas ações foram feitas via decreto, publicado no início de janeiro, com validade de 180 dias. Em junho, o prazo do documento – que também congelou concursos públicos e nomeações de servidores – foi prorrogado até o final do ano.
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Em junho, o governo apresentou 14 medidas, sendo que 11 dependiam de aval do Legislativo. Seis projetos já foram aprovados pelos deputados. Entre eles, o que alterou imposto sobre doações de bens e transmissão de bens por herança, o que vedou a incorporação de funções gratificadas (FGs) entre diferentes poderes para aposentadoria e o que instituiu a Câmara de Conciliação de Precatórios. Cinco propostas ainda aguardam votação: a que cria a lei de responsabilidade fiscal estadual, a que institui a Banrisul Seguradora, a que altera critérios para promoção de oficiais da Brigada Militar, a que revisa benefícios fiscais e a que propõe a transformação da licença-prêmio em licença para capacitação profissional, concedida a cada cinco anos, por três meses, sem caráter cumulativo.
Em agosto, o governo encaminhou 10 propostas para a Assembleia. Apenas uma foi aprovada, a que instituiu o regime de previdência complementar aos futuros servidores. Aguardam parecer duas emendas à Constituição – uma altera a regra sobre tempo de serviço na Brigada Militar e outra retira a necessidade de realização de plebiscito para extinguir a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) – e sete projetos de lei. São eles: os que extinguem as fundações Zoobotânica, de Esporte e Lazer (Fundergs) e de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps), o que autoriza a criação da subsidiária Banrisul Cartões, o que renegocia empréstimos habitacionais da extinta Cohab, o que propõe modificações em julgamentos no tribunal administrativo da Fazenda e o que e institui sistema de conciliação, para evitar que o Estado precise judicializar pequenas ações.
Ainda em agosto, o governador apresentou medidas, sendo que apenas uma não dependia de aval da Assembleia: o Programa Especial de Quitação e Parcelamento (Refaz), criado para possibilitar a regularização fiscal de empresas e incrementar a arrecadação, permitindo parcelamento com desconto de 40% nos juros e de até 50% na multa. Três propostas foram remetidas ao parlamento, e todas foram aprovadas na sessão que começou na terça-feira e se estendeu até a madrugada de quarta-feira. Os três projetos propuseram o seguinte: elevação de alíquotas do ICMS, antecipação do calendário de pagamento do IPVA eredução do desconto para o bom motoristas e criação de fundo de combate à pobreza, com cobrança de adicional de dois pontos percentuais de ICMS, até 2025, sobre TV por assinatura, fumo, cerveja e cosméticos.
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A quinta fase é composta por dois projetos enviados para a Assembleia no início do mês. Um amplia de 85% para 95% o limite de saque dos depósitos judiciais, aprovado na madrugada de ontem. Com o aumento do percentual, o governo garantiu a injeção de cerca de R$ 1 bilhão em seus cofres e um fôlego extra para pagamento da folha do funcionalismo nos próximos meses. A outra proposta, que tramita em regime de urgência e deve ser votada na próxima semana, é a que altera as regras de enquadramento das Requisições de Pequeno Valor (RPVs), reduzindo o teto de 40 para sete salários mínimos.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/09/conheca-as-etapas-do-ajuste-de-sartori-4855063.html