Apoio as ocupações de escolas

Apoio as ocupações de escolas

Paulo Arantes: Só uma educação calamitosa pode ser jogada na vala comum da relação custo-benefício

Professor aposentado de Filosofia da USP critica a reorganização proposta pelo governo Alckmin e analisa como o movimento as ocupações de escolas conseguiu tantos apoios

Por Leonardo Fuhrmann

Convidado para fazer uma palestra nos primeiros dias da ocupação da Escola Estadual Fernão Dias, em Pinheiros, o professor de Filosofia da USP Paulo Arantes vê semelhanças entre as ocupações de escolas e as manifestações de junho de 2013 e se surpreende com a grande solidariedade que o movimento atual recebeu. Ligado ao PSOL e um dos mais importantes intelectuais marxistas brasileiros, Arantes destaca que movimento de estudantes têm as vantagens e as desvantagens de apresentarem “um baixo grau de politização” e demonstram que os jovens não querem ser tutelados por organizações políticas.

Fórum – Como o senhor vê essas ocupações de escolas estaduais de São Paulo?

Paulo Arantes – É uma geração que não conheço inteiramente, porque convivo mais no ambiente universitário. Mas, até pelos relatos que tenho recebido, de quem tem acompanhado o assunto mais de perto, dá para fazer algumas suposições. O primeiro ponto é que fiquei realmente impressionado com o que está acontecendo.

Fórum – E a reorganização que foi estopim de insatifações maiores?

Arantes – As congregações das faculdades de educação da USP e da Unicamp criticaram o projeto do governo do Estado. O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo também. A decisão se baseou apenas em 19 páginas de um relatório sem pé nem cabeça, repleto de generalidades.

Fórum – Existem semelhanças dessas ocupações com outros protestos?

Arantes – Temos de ver como essa moçada vai metabolizar esse movimento, que ainda é incipiente. É um efeito das marchas de junho de 2013. É interessante que eles conseguiram se mobilizar sem serem politizados. Não dá para compará-los, por exemplo, aos pinguins chilenos, movimento secundarista que têm uma história de militância desde os anos da ditadura do general Augusto Pinochet.

Fórum – A reorganização anunciada pelo governo foi a gota d’água?

Arantes – A reorganização do ensino era uma novidade de um quadro de degradação do ensino público. O estado da educação é calamitoso em São Paulo e no Brasil como um todo.

Só em uma situação dessas é possível colocar a escola na vala comum da relação custo-benefício. O problema da educação vem desde a ditadura, quando decidiram investir no ensino universitário e abandonaram os outros níveis da educação. O resultado é que hoje temos graves problemas em todos.

Fórum – Ao que se deve o sucesso dessas ocupações?

Arantes – Esses jovens de 14 a 18 anos, com um baixo grau de politização para o bem e para o mal, tiveram uma inteligência política instintiva muito grande, que foi a decisão de ocupar as escolas. Depois da experiência de junho de 2013, eles conseguiram dar um nó no modo de repressão do governo paulista. Nas ruas, durante aquelas manifestações, a polícia conseguia colocar as pessoas dentro de verdadeiros caldeirões. Quando ocuparam as escolas, o método foi desmontado e a administração estadual ficou desnorteada. Tanto que chegou a mandar trinta carros de polícia para cercar uma escola. O governador ainda entrou na Justiça com pedido de reintegração de posse das escolas, mas apenas juízes com perfil mais conservador aceitaram esse argumento. A maioria deles entendeu que não há esbulho possessório no caso. Os alunos estão ocupando as escolas para que elas continuem sendo escolas.

Fórum – Como um movimento assim consegue manter sua força?

Arantes – A manifestação teve um efeito multiplicador muito forte. Tanto no rápido aumento no número de escolas ocupadas como no apoio de pais, familiares, professores, funcionários das escolas e da população em geral. Fora os pelegos, todos estão ao lado dos estudantes. Existe uma simpatia pelas ocupações que afeta a todos. Eles estão conseguindo fazer algo que o maior sindicato da América Latina, que é a Apeoesp, não conseguiu fazer durante suas greves durante todos os governos Alckmin. Mesmo com todos seus rachas, a Apeoesp é uma organização importante, forte.

Fórum – O que esperar desse movimento para além das ações contra o fechamento de escolas?

Arantes – Temos de ver quais serão seus próximos passos. Não deve haver unanimidade entre eles quanto a isso. Esses estudantes se anteciparam aos movimentos sociais e políticos, assim como nas marchas de junho de 2013. Eles mostraram que não querem ser tutelados por organizações.

 

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