Administrar o Estado

Administrar o Estado

Administrar o Estado é o mesmo que administrar uma casa?

Após o impeachment, a nova equipe econômica apostou nos cortes de investimento público, aprovou a PEC 95, que congela os gastos da União por 20 anos, e adotou outras medidas de contração fiscal.

A metáfora usada amplamente pelo presidente e seus ministros era de que administrar o país seria como administrar um lar. Quanto mais despesas você corta, mais saudável ficariam suas finanças, menor seria sua dívida. A promessa era de que a dívida passaria a cair com os ajustes realizados, pois havia um temor (terrorismo) de insolvência diante de um crescimento "descontrolado" da dívida pública.

Naquela época, muitos alertavam para o quão rasa e imprópria era a comparação entre gestão pública e gestão doméstica. Passado um tempo, a equipe econômica de Meirelles notou que errou na mão nos cortes, previu um déficit exagerado que ajudou a estagnar uma economia nocauteada.

Quem questiona essa metáfora pobre da gestão doméstica deve ser taxado como irresponsável do ponto de vista fiscal? Bobagem. Essa é mais uma dentre tantas cantilenas liberais que se mostram palatáveis no discurso e pouco se sustentam em evidências.

Vejamos.

Resultados de março de 2018:

- Desemprego voltou a crescer no último trimestre e atinge 13,7 milhões de pessoas (https://goo.gl/QUaws5).

- Trabalho sem carteira assinada e 'por conta própria' supera pela 1ª vez emprego formal em 2017 (https://goo.gl/e6MhDa).

- Investimento público cai para 1,17% do PIB e atinge o menor nível em 50 anos (https://goo.gl/quP7n9).

- A Dívida Líquida do Setor Público saiu de 38,9% em março de 2016 para 52% do PIB em março de 2018 (https://goo.gl/czqcWM). Abaixo

A correta redução da taxa básica de juros (Selic) trouxe o único dado positivo em relação a dívida, o custo de carregamento caiu timidamente. Porém, há espaço para uma queda ainda maior da Selic, tendo em vista que os juros para pessoas físicas e jurídicas cobrados pelos bancos se mantêm muito acima do razoável. (Cabe dizer que a inclinação de crescimento da dívida tem início no fim de 2014 e ganha força em 2015 ainda no governo Dilma).

Toda argumentação utilizada pelo governo para aprovar medidas como a reforma trabalhista e para propor congelamento do investimento público vem caindo por terra.

Os dados mostram que a dívida bruta e líquida aumentou, o desemprego se mantem alto e a atividade econômica patina.

A maioria dos pré-candidatos a presidência se mostra simpática a essas medidas do governo Temer. São candidatos considerados liberais. As eleições recentes mostram que tal perspectiva é "ruim de voto", um programa como o de Temer não vence eleições.

Os dados mostram que um governo puramente liberal, com um "homem do mercado" como ministro da fazenda, não produz nenhum resultado social positivo, pelo contrário, precariza os serviços públicos e enfraquece as parcas garantias de direitos que nossa frágil democracia tem/tinha.

A Europa adotou a cartilha liberal/austera por uma década, pós crise de 2008, nenhuma evidência sugere que tenha dado certo. Portugal e Grécia estão se recuperando por meio de projetos de centro esquerda que sabem a relevância de investimentos estatais, o Brasil e seus eleitores devem mirar esses exemplos.

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Gregório Grisa

https://www.facebook.com/gregoriogrisa/posts/1645597222221461 




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