A reforma que deseduca
Um governo que chega ao poder pelo atalho só pode fazer reformas sem discussão.
A Medida Provisória que reforma o ensino médio é um golpe dentro do golpe.
Impõe sem discutir uma reforma que deforma.
É uma volta dissimulada ao modelo vigente no regime militar com ênfase no ensino técnico.
A plebe das escolas públicas terá Matemática, português, inglês (macarrônico) e aspectos profissionais.
Escolas ricas oferecerão mais do que isso a quem puder pagar.
Estão falando muito na supressão de artes e educação física, mas o alvo são as ciências humanas.
O aluno vai escolher história, sociologia e filosofia nos dois últimos anos do ensino médio?
Nunca.
A reforma é uma malandragem: em lugar de extinguir o que não lhe interessa, o governo repassa ao aluno a escolha. As chamadas disciplinas “chatas” serão limadas por adolescentes da sociedade do leve e do divertido.
A lógica da demanda (vontade do cliente) prevalecerá sobre a da oferta (aquilo que a sociedade deveria considerar fundamental para a formação do adolescente como três anos de História, filosofia, sociologia).
Cada escola poderá escolher, além da parte obrigatória, outra das cinco áreas de conhecimento.
É claro que, por medida de economia, não oferecerão as cinco.
Volta a ideia do Doutor, personagem lá de Palomas: “Filho de pobre precisa saber matemática e português para trabalhar atrás do balcão. Filho de rico é que pode se dar o luxo das filosofias e outras literaturas”.
É o retorno do ensino técnico, profissionalizante, para o trabalho imediato.
Nova investida contra a “ideologia” na educação.
Fazer pensar é problemático.
O único ponto positivo da MP é a possibilidade de não fazer um aluno repetir todas as disciplinas por ter rodado em uma. O resto é mais do velho modelo pretensamente utilitário e simplista. Aumentar para sete horas diárias o tempo de sala de aula será visto como um suplício pelos clientes e afastará jovens que precisam trabalhar.
O Brasil terá mais do que nunca educação com dois ritmos: uma para pobres, outra para ricos; uma para o ensino público, outra para o ensino privado das escolas de alto gabarito. É o modelo DEM de governar e educar.
É bom diminuir o tempo de estudo de História.
Só assim os alunos não saberão a história dos golpes no Brasil.
Claro que tudo poder ainda mudar.
O governo chuta, espera a reação e, assustado, diz que se enganou.
Foi assim com a jornada diária de 12 horas de trabalho.
Grandes reformas pressupunham programas legitimados pelas urnas.
O Brasil acaba de criar a legitimidade do atalho.
http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2016/09/9092/a-reforma-que-deseduca/