A disputa é nas ruas

A disputa é nas ruas

por Silvio Caccia Bava

As razões

O núcleo da crise atual está na consolidação de um bloco das elites brasileiras a partir do final de 2012 – grandes corporações e sistema financeiro – que não quer mais nem o PT nem Dilma no governo. Essa oposição envolve também afastar, por todos os meios, a possibilidade da candidatura de Lula em 2018.

As razões desse enfrentamento sem negociações não passam pela questão da corrupção, que abarca todos os partidos, vem de longa data e é uma forma tradicional de as empresas buscarem vantagens ilegais junto aos governos. O que está em disputa é o controle da política econômica.

A consolidação do bloco das elites se deu em reação às medidas do governo Dilma para enfrentar a crise internacional, que contrariaram profundamente seus interesses. A redução da Selic, em 2012, baixou a remuneração dos rentistas. Na mesma época, a redução das taxas de juros ao consumidor fez os bancos públicos ganharem o espaço de um Bradesco no mercado; em poucos anos, esses bancos passaram de 35% para mais de 55% desse mercado. O congelamento dos preços da eletricidade, por exemplo, gerou perdas significativas para fundos internacionais que compraram ações das elétricas no Brasil. Para esse grande empresariado, acostumado a comandar o Banco Central e a política econômica, tais iniciativas afrontaram seus interesses diretos. Vem daí toda a razão de ser da campanha em favor do impeachment.

A campanha “Fora, Dilma”

As denúncias de corrupção, todas elas seletivas, pois ignoram o PSDB e os demais partidos de oposição ao governo, servem para mobilizar a população contra o governo e manipular a opinião pública, especialmente as classes médias que não compreendem por que os bons tempos acabaram.

A crise política se radicaliza; as ofensas pessoais e os panelaços mostram a intransigência dessas classes médias e sua revolta com a crise econômica; abre-se campo para o imprevisível. Nesse cenário, novas ONGs de direita e partidos que tradicionalmente defendem as elites buscam mobilizar a opinião pública em manifestações contra o governo e o PT.

Sem a mobilização da sociedade, avaliam que “não há clima” para a promoção do impedimento da presidenta. Caso passem a contar com um respaldo maior das ruas, darão continuidade ao processo de articular o golpe branco, isto é, a condenação do governo e do PT por atos ilícitos que, na verdade, todos praticam. Amplos setores do Congresso, do Judiciário, da Polícia Federal, tradicionalmente ligados aos interesses das elites, promovem uma ofensiva para derrubar o governo, criminalizar o PT (apenas o PT) e impedir a candidatura de Lula em 2018.

Neste momento, as forças neoliberais formaram um comitê dos partidos que são contra o PT e o governo e pretendem, coordenadamente, convocar seguidas manifestações populares em várias capitais do país. Eles têm à disposição o monopólio da mídia e agora investem na mobilização social para criar as condições para o golpe branco.

A rua passou a ser o centro das disputas. “Ou você vai pra rua ou ela (Dilma) fica”, diz a convocatória. Com quase um mês de antecedência, nos principais pontos de circulação em São Paulo, começam a ser distribuídos fartamente volantes de convocação para a manifestação “Fora, Dilma” de 13 de março.

Silvio Caccia Bava

Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil

 

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