Sísifo da Educação

Sísifo da Educação


Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade - Revista Gestão Universitária - 20/10/2015 - Belo Horizonte, MG

Em tempos remotos, muitos educadores levantavam bandeiras e bravejavam que educação não era negócio, e escola não era empresa e tais educadores encontravam seus pares a defender os mesmos ideais.

Analisemos como anda a educação hoje? Para se ter uma ideia, em 2013, os dois maiores negócios anunciados no Brasil envolveram empresas de Educação com quantias superiores a de 13 bilhões.

Isso só reforça a inversão de valores quando transforma a educação em uma lucrativa mercadoria-educação para quem estiver disposto a pagar.

A evolução/revolução da educação começou em 1950 com o educador baiano Anísio Teixeira. Este educador efetivou a ideia do Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), trabalhava com uma ideologia que convergia para um pensamento voltado para uma escola que faria a diferença.

Tal escola faria educandos pensantes, críticos e protagonistas, e estes ideais levariam a toda uma geração de educandos menos manipulados, o que consequentemente tinha como base a escola em tempo integral, que hoje, vislumbra uma educação a contemplar o meio social, emocional, psicológico, físico, afetivo e cognitivo dos educandos, sem abrir mão do lazer, descanso, socialização, atividades lúdicas, responsabilidade, respeito, compromisso e autonomia.

Para tal época, essas ideias eram consideradas subversivas, e em 1964, através do golpe militar, abortou-se tudo que era sugerido para uma educação protagônica, educação essa revolucionária e que indispunha o poder ditador da época, e para dar um basta em tais ideais libertadores, criou-se o Decreto-Lei 477 emudecendo educadores e educandos.

Este Decreto-Lei impunha disparates considerados como infração “à organização de movimentos subversivos, passeatas, desfiles ou comícios não autorizados, ou dele participe. Outro item de mesma estupidez dizia que era infração do educador conduzir, realizar, confeccionar, imprimir ou ter em depósito ou distribuir material subversivo de qualquer natureza”, além de outras estultices, entende-se como subversivo, tudo que vai contra a ordem estabelecida, e consequentemente, essa insurreição implicava no não cumprimento deste Decreto-Lei e acarretava em prisões, torturas, mortes, afastamento por 5 anos dos professores dentre outras arbitrariedades.

Acabou-se o regime militar, mas as idiotices ainda continuam até os dias atuais. Para se ter uma ideia, em 1960 o Brasil tinha o dobro do PIB em relação a Coreia do Sul e tínhamos 35% de analfabetos, um número igual ao da Coreia. Hoje temos 13% de analfabetos (sem contabilizar os analfabetos funcionais) enquanto a Coreia tem apenas 2%. Em relação ao estudo universitário contamos com pouco mais de 10% entre jovens de 25 anos a 34 anos, enquanto a Coreia a taxa é de 60% destes jovens nas universidades.

Essa mudança causou um abismo relacionado a educação entre os dois países. Estávamos melhores em 1960 e chega a ser humilhante para nós compararmos o ranking da educação dos dois países hoje, pois a Coreia ocupa o 4º lugar e o Brasil em 35º em uma pesquisa realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que se baseou em 36 países.

O que fez com que a Coreia evoluísse tanto assim foi ela perceber que a educação é o elo para o crescimento econômico de um país, investimento em pesquisa e desenvolvimento, e também não deixar de considerar o capital humano, coisas que não são valorizadas no Brasil, pois fazendo uma comparação, de 1960 a 2015, passamos por vários governos, ideologias políticas, golpes e nada se fez para educação evoluir.

Apenas mudaram-se os corruptos, ou seja, ainda estamos fadados a síndrome de Sísifo que é um esforço de sempre recomeçar sem se preocupar se irá ou não conseguir o resultado. É um eterno recomeço.

Assim está a nossa educação, rolando pedra morro acima e a deixando escapar para rolar morro abaixo, percebendo que o esforço despendido está sendo inútil.

Precisamos ter o foco todo na educação e sermos concorrentes neste ranking com os países como Finlândia, Suécia, Japão e Coreia do Sul. Precisamos mais que nunca, acordar o Gigante Adormecido.




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