O direito à opinião

O direito à opinião

Saber ouvir a opinião do outro é uma virtude que corre risco de extinção. Os gritos de intolerância e a falta de respeito com o próximo estão nos deixando surdos. É hora de repensar sobre os caminhos da comunicação.

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Diante da crise política que vivemos no país, é cada vez mais comum vermos o combate verbal entre as pessoas, seja na mesa de bar, nas ruas, nas redes sociais. As diferenças de opinião não cabem mais no mesmo espaço. Quem tentar invadir o território alheio terá que enfrentar uma verdadeira guerra de palavras, onde o ódio e os xingamentos são atirados para todos os lados, sem censura.

Para piorar a situação, as brigas e discussões acaloradas não ocorrem apenas entre adultos. Vemos muitas crianças destilando raiva e ofensas, umas com as outras, por não aceitarem o diferente. Provavelmente estão repetindo ações que viram partir de algum adulto, geralmente, dos próprios pais.

Crescemos alimentados pela ideia de que mundo é um lugar competitivo, portanto, salve-se quem puder! Viramos individualistas. Aprendemos a fazer rótulos e julgamentos. Temos o pensamento enraizado de que para vencer uma batalha é preciso ser o mais forte. E quando nos deparamos com algum problema, impomos as nossas opiniões, falamos mais alto, atacamos o outro para nos defender.

Quando o assunto se trata de política, as proporções se tornam ainda maiores. E com tanta perplexidade que estamos vendo e vivendo, muitas vezes fica difícil manter o otimismo por dias melhores. Mas também não podemos jogar a toalha e acreditar que tudo está perdido. Se quisermos realmente uma mudança no país, precisamos começar por nós mesmos. E foi partindo dessa premissa que eu descobri a importância da COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA.

A Comunicação Não Violenta (CNV) foi criada e desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, junto à sua equipe, nos anos de 1960. Seu objetivo é fazer com que as relações humanas sejam mais leves e harmoniosas. E que os problemas, desde questões íntimas até conflitos mundiais, possam ser resolvidos de forma construtiva, através da empatia, cooperação e do diálogo respeitoso.

Para isso, é preciso aprender a se colocar no lugar do outro. Praticar a escuta livre de julgamentos e preconceitos. Saber ouvir o ponto de vista do outro não significa ser passivo nem ter que concordar com tudo, mas sim, estar aberto para o diálogo ao invés de bloqueá-lo com críticas negativas e intolerância. Ao fazer isso, passamos a dar mais atenção, não apenas às diferenças que nos separam, mas às semelhanças que nos unem e como as nossas necessidades podem ser conciliadas.

Marshall, falecido em 2015, levou os conceitos da CNV para mais de 65 países, mediando e guiando conflitos sociais ao redor do mundo. No Brasil, o inglês Dominic Barter, radicado no país há 23 anos, aplica a comunicação não violenta em presídios e favelas do Rio de Janeiro. Além disso, preside o conselho do Centro Internacional de Comunicação Não-Violenta e desenvolve projetos também no exterior.

Praticar a comunicação não violenta pode ser uma transição lenta e que exija esforços, afinal, não conseguimos mudar nossos hábitos e atitudes de uma hora para outra. Mas treinar o novo olhar para a observação genuína e para o altruísmo é um caminho que nos leva a fortalecer os vínculos sociais e construir relacionamentos mais saudáveis. Os resultados prometem ser positivos e transformadores.

Em tempos de crise, fazer a nossa parte pode ser um bom começo.



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