A Educação na agenda brasileira

A Educação na agenda brasileira

 

"Há consenso nacional de que, sem Educação de qualidade, o Brasil não se colocará entre os países de futuro sustentável",

afirma Mozart Neves Ramos

Fonte: Correio Braziliense (DF)   06 de novembro de 2014

Passadas as eleições, a expectativa do país se prende aos nomes que vão compor as futuras equipes de governo. O país deu, mais uma vez, belo exemplo de cidadania e democracia. Os debates ajudaram a identificar questões inadiáveis para o desenvolvimento brasileiro, como a reforma política, o combate à corrupção, a retomada do desenvolvimento econômico e a oferta de Educação de qualidade. Esta última será objeto deste texto.

Há consenso nacional de que, sem Educação de qualidade, o Brasil não se colocará entre os países de futuro sustentável, comprometendo de vez a sua competitividade no cenário internacional. Os níveis de aprendizagem Escolar, especialmente dos Alunos matriculados na chamada Escola do jovem, o Ensino médio, são muito ruins. E, pior, o país está estagnado nesse baixo patamar de aprendizagem há mais de 15 anos, nos quais apenas 10% dos jovens que concluem o Ensino médio aprenderam o que seria esperado em matemática.

Um dos caminhos apontados pelos candidatos para reverter essa situação foi oferecer Escolas em tempo integral, com o que concordo, desde que se tomem cuidados. É preciso ter nessas Escolas Professores com dedicação plena; currículo Escolar voltado para a Educação integral, que alinhe as competências cognitivas com as habilidades socioemocionais; e, além disso, equipamentos Escolares compatíveis com as exigências tecnológicas do século 21.

Entretanto, os candidatos se esqueceram de que 33% dos matriculados no Ensino médio estão no período noturno — a maioria dos quais constituída de trabalhadores, que obviamente não teriam como cursar uma Escola em tempo integral. Nessa situação, encontram-se 2,4 milhões de Alunos, cujos níveis de aprendizagem conseguem ser ainda bem inferiores aos do período diurno, como recentemente revelou estudo do Instituto Ayrton Senna.

O problema é grave e não pode ser esquecido pelos governantes. É bom lembrar que o país tem hoje cerca de 5,3 milhões de jovens entre 15 e 24 anos que nem estudam nem trabalham, a chamada geração nem nem. Possivelmente, os jovens que hoje estão trabalhando não conseguem se manter no emprego por causa dos baixos níveis de aprendizagem, e terminam engrossando as fileiras dos que não fazem uma coisa nem outra.

Outro caminho apontado pelos candidatos para melhorar a Educação foi a necessidade de estruturar um currículo básico nacional não só capaz de orientar as universidades quanto à formação Docente — hoje muito distante da realidade da sala de aula —, como também de organizar melhor o sistema público de Ensino quanto aos conteúdos a serem oferecidos em cada ano da Educação básica.

A experiência mostra que o atual currículo Escolar é fortemente ancorado não só no livro didático adotado pela Escola ou mesmo pela rede de Ensino, mas também nos exames nacionais como a Prova Brasil e o Enem — este mais recentemente. Talvez esse possa ser o caminho inicial para a estruturação do novo currículo. Se formos inventar a roda, levaremos anos realizando as famosas discussões em que tudo se discute e nada acontece.

Outro ponto de convergência nos debates relativos ao enfrentamento do desafio educacional foi a necessidade de buscar efetiva valorização da carreira do magistério, tornando-a atrativa para os jovens. Isso passa por salário inicial compatível com os das carreiras mais valorizadas no mundo do trabalho. Por plano de carreira estruturado com foco na formação ao longo da vida e no desempenho em sala de aula. Por formação inicial sólida, capaz de dialogar com o chão da Escola. E por Escolas equipadas para fazer face aos desafios tecnológicos impostos pelo século em que vivemos.

Isso não só vai exigir volume importante de recursos, como também a efetivação de um pacto federativo entre as três esferas de governo e as universidades. Por isso, não tenho dúvidas em propor que os recursos adicionais para o novo Plano Nacional de Educação (PNE) deveriam ser prioritariamente destinados a essa finalidade. Sem bons Professores, não teremos futuro.

Por fim, vejo no ministro da Educação, Henrique Paim, liderança natural para conduzir as mudanças na Educação, que se articula e dialoga muito bem não só com os reitores e secretários de Educação, mas com vários setores da sociedade. Torço assim para que a presidente reeleita Dilma Rousseff o mantenha na função. A Educação brasileira vai lhe agradecer.

*Mozart Neves Ramos Diretor do Instituto Ayrton Senna, foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco, secretário de Educação de Pernambuco e membro do Conselho Nacional de Educação 


Opinião publicada apenas em veículo impresso




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