Crise de identidade na EAD?

Crise de identidade na EAD?

Crise de identidade na educação a distância?

Newton Campos - O Estado de São Paulo - 20/10/2014 - São Paulo, SP


Semana passada tive a oportunidade de participar do 20º Congresso Brasileiro de Educação a Distância, organizado pela Associação Brasileira de Educação a Distancia (ABED). Me surpreendi positivamente com tudo: a infraestrutura, o nível das palestras, o nível dos participantes… O evento deixou realmente muito pouco a desejar na comparação com os principais encontros do setor nos Estados Unidos e na Europa.

Acredito que isso corrobore a visão de vários estudos que mostram que o brasileiro gosta da internet e a adota cada dia mais. Embora nossa velocidade média de conexão de internet seja horrível como discutimos há algumas semanas, somos pessoas predispostas a interagir socialmente pela rede. Sem dúvida, este é um ponto extremamente positivo para o futuro da educação a distância brasileira, e parece que vem coisa boa pela frente!

Mas, espera aí! Afinal, o que é ‘educação a distância’?!? Este foi um dos assuntos discutidos numa palestra proferida pelo canadense Stephen Downes (foto), um dos maiores blogueiros do mundo sobre o assunto, através do seu blog “Online Learning Daily” (OLDaily). Durante sua palestra, Downes nos apresentou a um polêmico debate sobre o uso dos termos ‘educação a distância’ e ‘e-learning´, que segundo a professora Sarah Guri-Rosemblit*, tem sido mal utilizado em diversos âmbitos em todo o mundo, gerando uma crise de identidade no setor.

Segundo Sarah, muitos cursos ‘a distância’ utilizam ferramentas e pedagogia digitais extremamente arcaicas, utilizando-se do ‘e-learning’ somente para o compartilhamento de textos em geral (artigos, livros, emails, etc). Nestes casos, verificamos a ocorrência formal da ‘educação a distância’ mas com um ‘e-learning’ bastante limitado.

Por outro lado, muitas universidades presenciais – que nem sequer oferecerem cursos ‘a distância’ – utilizam as novas tecnologias com uma tenacidade extraordinária, fazendo com que os professores e os alunos, mesmo que encontrando-se quase diariamente fisicamente, se integrem digitalmente duma forma bem avançada, compartilhando vídeos, debates, agendas, projetos e etc. Nestes casos, podemos perceber claramente a ‘educação a distância’ acontecendo (embora encoberta pelo formato presencial oficial do curso) juntamente com um ‘e-learning’ avançado e integrado pedagogicamente ao curso.

Achei o debate pertinente e interessante, pois muita gente está usando estes termos de forma indiscriminada e frequentemente enganosa. Portanto, preste atenção na hora de utilizar e interpretar estas expressões.

* Sugiro a leitura do artigo “‘Distance education’ and ‘e-learning’: Not the same thing” de Sarah Guri-Rosenblit (2005).




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