RS discute fim da expulsão escolar

RS discute fim da expulsão escolar

Rio Grande do Sul discute fim da expulsão escolar

Conselho Estadual de Educação do Estado iniciou discussão sobre parecer que proíbe as escolas de expulsar ou suspender os alunos

Fonte: Terra     22 de agosto de 2014

De um lado, educadores defendem a autonomia da escola para expulsar alunos como lição para impor limites. De outro, especialistas acreditam que punição é radical e fere a Constituição, que garante o direito de estudar a crianças e adolescente de até 16 anos.

No mês de agosto, o Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (CEEd-RS) iniciou discussão sobre parecer que proíbe as escolas de expulsar ou suspender os alunos. O Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS) considera a expulsão é um meio de defender o interesse coletivo. Já a Associação Brasileira de Psicopedagogia se posiciona a favor da medida e considera a exclusão um ato contrário ao papel acolhedor que a escola deve ter.

Recentemente, em Santa Catarina, a 5ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado rejeitou a apelação da família de um adolescente que havia sido expulso de uma escola. No processo, foram utilizadas gravações do jovem agredindo um colega em frente à instituição de ensino. Na sentença, aprovada por unanimidade, o relator do processo escreveu que não é razoável exigir de uma escola a permanência de um estudante envolvido em um ato de violência e que uma conduta negativa pode influenciar os outros alunos.

Na mesma linha de raciocínio, o presidente do Sinepe, Bruno Eizerik, explica que a expulsão é uma decisão extrema, mas que precisa ser tomada em determinadas situações. “Não se pode prejudicar uma turma de mais de 30 estudantes por causa de uma pessoa.” O professor entende também que, em algumas situações, a transferência compulsória pode ser benéfica também para o discente punido, já que a mudança de colégio pode trazer uma nova oportunidade. “Em alguns casos, em determinada instituição, o aluno não encontra o ambiente propício para se desenvolver. A mudança pode ser positiva.”

Eizerik salienta que a questão disciplinar também é pedagógica e que a adequação às normas faz parte do processo de formação. “É preciso colocar limites nos jovens. Hoje vemos alunos agredindo colegas e professores. A criança tem que entender que existem regras.”

Por outro lado, para a diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Maria Teresa Messeder Andion, a exclusão do aluno nunca é positiva. “O jovem fica com uma marca. Na nova escola, ele já chega visto como um problema.” Maria Teresa entende a expulsão como um atestado de fracasso da instituição de ensino. Ela argumenta que, quando a direção decide pelo afastamento de um estudante, é porque todas as outras medidas falharam. No entanto, como o aluno está em formação, a falha é institucional, principalmente em relação à motivação. “O jovem entre 10 e 15 anos está na sala de aula e se sente um E.T. Não é o mundo dele, ele não consegue fazer a ponte entre o conteúdo e o cotidiano.”

Segundo a psicopedagoga, o colégio precisa ajudar o estudante a descobrir suas habilidades, criando planos pedagógicos que atraiam as turmas, incluindo a prática esportiva e o ensino de música e casos mais complicados precisam ser acompanhados por profissionais, psicopedagogos, psicólogos e psiquiatras.

Defensora do parecer discutido pelo CEEd-RS, a representante da Associação das Escolas Superiores de Formação de Profissionais do Ensino do Rio Grande do Sul (Aesufope-RS), Carmem Craydi, entende que a medida tem o caráter de respeitar o direito legal das crianças e adolescentes. “A Constituição é clara: alunos até 16 anos têm o direito de estudar, a escola não pode negar este direito.” Ela acredita que existe uma confusão sobre o que é responsabilidade da escola. Para Carmem, o afastamento normalmente representa um abuso e só é justificável quando a permanência de um aluno em determinado colégio representa um risco para ele ou para outros. Mas faz questão de lembrar que tal decisão cabe à Justiça, não à direção da escola, assim como situações em que o estudante cometa infrações penais. A professora vê na repercussão do debate um problema da sociedade que clama por punições, ignorando a necessidade de formação dos mais jovens.

A primeira votação do parecer, que ocorreria no início do mês, foi retirada da pauta do conselho para ampliar a discussão e não tem nova data para ser votada.




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