Qualificação de professores

Qualificação de professores

Só 2% dos professores participam de treino prático na carreira, diz estudo

Maioria dos cursos de formação continuada são teóricos. País tem de amadurecer relação entre Ensino Básico e Superior, diz ministro

Fonte: G1   07 de julho de 2014

Só 2% dos professores brasileiros participam de atividades práticas de formação e treinamento durante sua carreira, consideradas pelos especialistas como as mais eficazes, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira (7) em São Paulo pelo Instituto Ayrton Senna (IAS).

Realizado em parceria com o Boston Consulting Group (BCG), o estudo ouviu mais de 2.700 professores e profissionais de educação, e 70% deles disseram que os cursos e atividades de formação continuada são realizados em turma (coletivos) e fora da sala de aula (teóricos).

O ministro da Educação, Henrique Paim, afirmou no evento que a formação de professores é um dos grandes problemas educacionais no país. "Acho que a formação de professores é o principal gargalo que nós temos hoje para avançar na qualidade da educação", disse ele.

Segundo Paim, o Brasil precisa amadurecer as relações entre as redes municipais e estaduais de ensino e as instituições formadora. "Precisamos aproximar mais a universidade da educação básica", defendeu ele. Um dos caminhos para isso, de acordo com ele, deve ser a pactuação entre as duas partes para que a melhoria na formação de professores tenha um "impacto expressivo" na educação brasileira.

O estudo apresenta exemplos de países com alto desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), ou que apresentaram melhoria considerável. Entre os casos de sucessos está o da Finlândia, onde o professor só assume sozinho uma sala de aula depois de concluir um mestrado profissional voltado à prática e de passar três anos lecionando sob a supervisão de um professor mais experiente.

Falta de estímulo
A pesquisa mostra ainda que, além da falta de estímulo, entre os entraves para a qualificação dos professores brasileiros está a falta de tempo disponível para os estudos, a falta de cursos que tenham aplicação nas aulas e a alta rotatividade dos professores nas escolas. Quase todos os participantes da pesquisa trabalham nas redes municipais ou estaduais de ensino, e 85% deles atuam no ensino fundamental ou médio.

Segundo Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, o tema do estudo --o impacto de cursos de aperfeiçoamento para professores que já atuam na sala de aula-- está diretamente ligado a 20% das metas do Plano Nacional de Educação (PNE).

Ela afirmou que "um bom professor, um professor bem preparado, consegue impactar sem dúvida o aprendizado das crianças", mesmo as que vivem em lares com baixas condições socioeconômicas. "Não precisamos melhorar as condições socioeconômicas de todas as famílias antes [de melhorar a educação]", disse Viviane.

Douglas Woods, sócio do Boston Consulting Group, diz que o Brasil precisa de mais atividades eficazes de treinamento de professores. "Têm que ser mais práticas e menos teóricas, acontecer de fato dentro da sala de aula." Ele citou o sistema de mentoria, em que um professor mais experiente ajuda um professor menos treinados, como exemplo de prática bem sucedida em países desenvolvidos.

A grande maioria dos professores ouvidos têm diploma da graduação, e 60% já fizeram algum tipo de especialização. Apesar disso, eles apontaram seis obstáculos para que o Brasil supere a necessidade de melhorar a capacitação dos docentes: "carência de incentivos formais, escassez de tempo por parte dos professores, lacunas e baixa aplicabilidade do conteúdo das ações oferecidas, preferência por ações de curto prazo e de alta visibilidade, falta de alinhamento das ações de formação continuada com os planos de carreira e desenvolvimento profissional dos professores e alta rotatividade do corpo docente".

Falta de incentivo
Além de ouvir os profissionais da educação, o estudo do IAS reuniu dados de outras pesquisas divulgadas dentro e fora do Brasil, inclusive a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), com seus resultados de 2008. Segundo as informações sobre cursos de formação continuada, os professores brasileiros recebem incentivo financeiro e de tempo abaixo da média dos 24 países participantes da pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Os docentes do Brasil, geralmente, arcam com mais custos de formação continuada e têm, em média, menos tempo reservado para capacitação", diz o estudo. Segundo os dados, 20% dos professores entrevistados disseram ter pago 100% do valor dos cursos que fizeram, um índice cerca de duas vezes maior que a média dos países da pesquisa Talis.

Além disso, menos professores brasileiros disseram que fizeram cursos pagos pelos governos, e que tiveram tempo livre para se dedicar a eles, do que a média Talis.

A alta rotatividade também preocupa os professores e especialistas. De acordo com o estudo, o grande número de docentes temporários e a falta de estabilidade afeta a dedicação à formação continuada. Segundo dados da Prova Brasil 2011, 29% dos professores entrevistados disseram que trabalhavam em sua escola atual havia menos de dois anos; 46% dos participantes disseram que tinham pelo menos 15 anos de carreira, mas só 14% dos entrevistados tinham mais de 15 anos de trabalho na mesma escola.

Diagnóstico
A pesquisa também entrevistou especialistas em políticas educacionais e fez um diagnóstico sobre a oferta de cursos de formação de docentes no Brasil. "Os cursos do MEC variam muito de metodologia. Em sua maioria, são ofertados pelas universidades federais, com alguma participação também dos institutos federais e das universidades estaduais e algumas poucas universidades confessionais, comu¬nitárias e municipais com históricos de formação de professores", diz o mapeamento.

De acordo com os dados da pesquisa, o Ministério da Educação possui hoje 11 programas diferentes de formação de professores: há opções para quem atua na educação infantil, no fundamental e no ensino médio e para docentes que trabalham especificamente com crianças em idade de alfabetização ou que lecionem em áreas específicas, como matemática, ciências sociais, artes e educação física.

Outras opções de cursos são os que incentivam o uso de tecnologia na sala de aula e os de formação para a prevenção ao uso de drogas e orientações sobre sexualidade.
No total, segundo o mapeamento, os cursos já foram feitos por mais de um milhão de professores brasileiros. Mas nem todos os programas possuem dados detalhados sobre o número de docentes formados e os atualmente matriculados nas capacitações.

Já os três programas oferecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) têm previsão de formar até 23 mil professores até 2015. Um dos programas enviou 2.119 professores para cursos no exterior entre 2010 e 2013.

Um dos problemas apontados para a produtividade resultante dessas formações, porém, é a falta de uma "base nacional comum" na área. O professor José Francisco Soares, atualmente no cargo de presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), afirmou, em entrevista publicada no estudo, que a não definição dessa base "causa problemas na formação de professores, no ensino dos alunos da educação básica e na avaliação deles".

Qualificação de professores exclui temas ligados à sala de aula

Cursos sobre reuniões pedagógicas são os mais frequentados pelos docentes, diz pesquisa

Fonte: R7    08 de julho de 2014

Uma pesquisa realizada com cerca de 3.000 professores e gestores escolares brasileiros e estrangeiros mostra que mais de 70% desses profissionais fazem formação continuada, mas estas atividades abordam questões desvinculadas das atividades em sala de aula.

O estudo foi feito pelo pelo Instituto Airton Senna em parceria com o BCG (The Boston Consulting Group), e contou com a participação de profissionais dos Estados Unidos, México, Chile, Brasil, Finlândia, Portugal, China e Austrália.

A pesquisa aponta que os docentes que buscam aperfeiçoamento se deparam mais com cursos que abordam temas como o acesso a material didático, reuniões pedagógicas e participação em eventos educacionais.

Baixo impacto
Frente a este cenário, observa-se que o enfoque em práticas conjuntas e mais distantes do cotidiano escolar resulta em iniciativas de baixa impacto na melhoria do ensino.

Poucas são as atividades práticas nos cursos complementares de formação de professores. Além disso, falta a abordagem de temas relativos à organização da carreira docente, como a mentoria, que consiste na proporção de momentos reflexivos sobre o processo de auto-avaliação das competências profissionais e na orientação do trabalho do professor como um todo.

Dentre entrevistados para a pesquisa, menos de 2% relataram receber esse tipo de formação, que se mostra como uma das mais eficazes nas redes que são referência em formação de docentes.

Pensando na realidade brasileira, Bernardete Gatti, uma das idealizadoras da pesquisa “Professores no Brasil: impasses e desafios”, publicada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educa­ção, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2009, avalia que é preciso uma mudança estrutural no oferecimento de formação continuada aos professores do País.

— Dado o contingente de profissionais que estão sendo formados nas instituições privadas, seria interessante uma política es­pecífica de avaliação, diferente do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e do Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), afirma.

De acordo com o relatório, a carência em incentivos formais para a formação continuada de professores e a baixa aplicabilidade do conteúdo dos cursos nas salas de aula são desafios que precisam ser vencidos no caminho da melhoria do ensino. 

 




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