A busca da verdade no processo educacional

A busca da verdade no processo educacional

 Escrito por Gabriel Chalita

 

Desde os gregos, discute-se muito a existência da verdade. Sócrates e os sofistas navegaram em mares distintos. O primeiro tinha o compromisso com a verdade; os sofistas, não. Sócrates acreditava que todo mundo possuía condições de desenvolver o conhecimento. Os sofistas, em nome de uma tentativa de pacificar esforços, achavam que não se devia buscar algo tão doloroso como o parto do conhecimento; os que o tivessem poderiam repassá-lo aos outros na medida de sua necessidade. Sócrates discordava. Para ele, a aventura do conhecer era bastante pessoal. Assim, os parteiros apenas tinham de auxiliar a nova criança a nascer.

Se a verdade, por um lado, tem a beleza proposta por Sócrates, por outro, corre o risco de ser abraçada de forma radical e ignorante. Os que se assumem donos da verdade estão muito distantes dela. A verdade é como um sol que ilumina e aquece. Não tem dono. É de todos e não é de ninguém.

Verdades absolutas transformam-se em dogmas, o que em educação é um perigo. Verdades absolutas são paradigmas que impedem o professor de conseguir enxergar de outra forma.

Paulo Freire insistia em salientar que o professor deve educar para o essencial. Enxergar as possibilidades. Sair do convencional. Ter criatividade para ousar. O comodismo encerra, enclausura uma força nova.

É preciso acreditar no aluno. Quem não confia na possibilidade de transformação do ser humano, em sua capacidade de superação, não pode ser educador. O professor deve notar o que une os alunos, enxergar além da indisciplina ou da apatia. Ser capaz de não desanimar quando o jardim não estiver florido. Ser capaz de enxergar sementes por debaixo da terra.

O primeiro passo não é descobrir o que o aluno não sabe, mas o que ele sabe. Cada um tem uma história de vida que merece ser conhecida.

Estudantes tímidos não perderão a timidez com a braveza do professor. É com jeito que se faz. Com uma conversa aqui. Com um trabalho em dupla. Com um espaço para que ele diga pouca coisa, mas algo que lhe dê conforto. À força, nada funciona em matéria educacional. Isso não significa que o educador não deva ser exigente. Exigente, sim; ríspido, não. Exigente, sim; desequilibrado, nunca.

O professor precisa compreender que sua relação com o aluno é de natural generosidade. Uma troca em que tanto a ausência quanto a insolência são intoleráveis. A ausência faz com que o aluno não espere nada do professor nem de si mesmo, o que é um desperdício. E o professor só aceitará caminhar com seu aluno se ele próprio tiver consciência de que é também um ser humano, sujeito às vicissitudes da vida. É preciso ter o desejo de melhorar o mundo e acreditar na educação como o principal caminho para fazê-lo.

A presença do educador tem de ser completa. Um professor, ao entrar na sala de aula, precisa acontecer. Encantar, motivar, instigar. O aluno tem de sair dali com fome de saber. E, para isso, emoção e razão devem conversar.

No processo educacional, a busca da verdade é um caminho que se percorre conjuntamente. Mestres e alunos ensinam e aprendem de forma contínua, colaborativa, uma vez que aquela busca, se bem conduzida, não se esgota. A consciência de que nada sabemos nos permite construir uma rica trajetória, em que o conhecimento cumpre seu papel libertador. E esse é um aprendizado para a vida inteira.

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