PNE reflete ativismo de poucos

PNE reflete ativismo de poucos

Para especialista, Plano de Educação reflete ativismo de poucos grupos                                      

Em audiência, Claudio de Moura Castro disse que “pessoas que sabem e são respeitadas” não foram consultadas na elaboração do projeto
Participaram da audiência Cristina Helena Carvalho, Alice Setubal, Cyro Miranda, Claudio de Moura Castro e Alvaro Dias Foto: Pedro França


Para O especialista em educação Claudio de Moura Castro, o projeto do novo Plano Nacional da Educação (PNE) é “equivocado e inócuo”. Trata-se, na visão dele, de mais de 2 mil propostas por vezes incompatíveis. Para Castro, o texto reflete antes de tudo o “ativismo” de grupos específicos, sem incorporar as contribuições de pessoas que “sabem e são respeitadas”.

O especialista foi um dos debatedores de audiência pública realizada ontem pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

Como exemplo da falta de prioridade, ele citou que o projeto dedica um parágrafo tanto ao ensino médio quanto à padronização dos ônibus escolares.

— Algumas ideias boas estão perdidas numa salada de irrelevâncias — criticou.

Entre as medidas impossíveis, Castro apontou a elevação a 90% do índice de universitários que chegarão ao fim do curso. Segundo ele, nos Estados Unidos o grau de evasão chega a 50%. Ele considerou irreal a meta de erradicação do analfabetismo absoluto e a previsão de ampliar o número de vagas no ensino técnico sem que haja apoio ao sistema privado.

Entre as metas do novo PNE, está a previsão de um aumento gradativo do investimento em educação para que, em dez anos, os recursos correspondam a ao menos 10% do produto interno bruto (PIB), saindo do patamar atual de 5,6%.

Mesmo com o reforço das receitas do pré-sal, os participantes da audiência e os senadores reconheceram que os recursos já disponíveis não serão suficientes para resolver as carências da área.

Grandes fortunas

A professora Cristina Helena Almeida Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB), propôs que o Imposto sobre as Grandes Fortunas, previsto na Constituição, seja regulamentado e os recursos sejam destinados à educação.

O relator do projeto do PNE (PLC 103/2012), Alvaro Dias (PSDB-PR), disse que não pretende indicar novas vinculações de tributos. A seu ver, os recursos adicionais deverão sair dos orçamentos da União, dos estados e dos municípios:

— Discutir novas fontes é tergiversação. Não podemos vincular o cumprimento das metas a eventuais novas fontes.

Maria Alice Setubal, presidente da Fundação Tide Setubal, lamentou a supressão, em comissões do Senado que já examinaram o projeto do PNE, dos parâmetros para a definição do custo aluno/qualidade (CAQ), que serve de base para o investimento mínimo na educação básica. Segundo ela, as mudanças fragilizaram o futuro plano, pois o CAQ é o instrumento para o enfrentamento das desigualdades educacionais. Ela disse que os piores resultados estão nos pequenos municípios, nas áreas rurais e nas periferias das grandes cidades.

Pelo texto que saiu da Câmara, o CAQ teria de ser implementado no prazo de dois anos de vigência do PNE, incorporando custos do pagamento e qualificação de professores, manutenção, construção e conservação de equipamentos, alimentação e transporte escolar, entre outros. No Senado, saiu o prazo.

Cristina Helena também apontou retrocessos, citando a meta de 10% do PIB para a educação. Ela lembrou que o texto da Câmara tratava da “educação pública”. No Senado, foi suprimida a palavra “pública”. Dessa maneira, de acordo com ela, os recursos poderão ser também canalizados para ações do setor privado, como o ProUni, que financia bolsas de estudo nessas instituições.

Jornal do Senado

Leia o contraponto de Luiz Araujo

- As caboclinhas e o preconceito das elites

 




ONLINE
11