Uergs, este ano pode ser o seu

Uergs, este ano pode ser o seu

 

Uergs, este ano pode ser o seu

Noili Demaman*

 

Numa oportunidade, quando guria, estava eu num salão dito de beleza esperando minha vez para ser atendida quando uma senhora, muito falante, declarava em alto e bom som o trunfo de sua bem-sucedida vida conjugal: a tolerância. Exemplificava, sempre olhando para nós, as mais jovens, como para dar-nos uma lição, que ela conseguira, com muito jeitinho, a permissão do marido para cortar o cabelo que, desde que se casaram, ele exigia intacto. Assim, como quem não quer nada – e até então eu não queria –, perguntei há quanto tempo estavam casados.

Onze anos, foi a resposta.

Lembro-me disso toda vez que ouço os governantes pedirem para os envolvidos com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) esperar, porque a instituição está se consolidando.

Tem 11 anos.

Quando da última avaliação do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), cujos resultados foram dados a conhecer no dia 6 de dezembro, uma surpreendente (para nós, professores, nem tanto) revelação: a nossa universidade estadual não só mostrou possuir o melhor Curso de Tecnologia em Automação Industrial – situado em Novo Hamburgo e usando as instalações do Colégio Liberato Salzano, com o que tem garantida a infraestrutura necessária – como também conseguiu ficar na nona posição entre as 74 universidades estaduais do país.

Isso não é pouco.

No entanto, só quem trabalha nela sabe do esforço hercúleo que é preciso fazer para conseguir o que se tem. Enquanto temos servidores na Assembleia renegando as instalações refrigeradas, preferindo passear seus cães no calor da rua, nós temos unidades em que nem uma geladeira há para manter a água – comprada por nós, é claro – em temperatura aceitável nesses 40 graus que tem feito Estado afora. Sem contar a ausência do mínimo que nós, professores, acabamos muitas vezes por suprir, como, por exemplo, material de péssima qualidade – a começar pelas famigeradas canetinhas de escrever no quadro, que, com a desculpa de serem compradas com licitação, vêm da pior espécie, e continuando com a compra de livros, por nossa conta, é claro, para emprestarmos aos acadêmicos.

Caso as comunidades acelerassem seu apoio à Uergs – justiça seja feita que ela não tem sido desamparada pelos munícipes –, com certeza esse seria um grande investimento, pois o retorno de qualificação tanto de pessoal das humanidades como das tecnológicas é certo.

Já estamos lavando o cabelo e deixando secar ao sol por conta própria. Talvez cheguemos a cortá-lo caprichosamente neste ano, mas é preciso celeridade, pois as esposas estão mais exigentes e hoje veem a tolerância excessiva não como qualidade, mas como forma de alimentar o ego de maridos déspotas que só continuam ainda a existir pela complacência com que são tratados em suas atitudes relapsas.

*Professora
 




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