Exclusão social na reforma do EM

Exclusão social na reforma do EM

A exclusão social da reforma no Ensino Médio

A exclusão social da reforma no Ensino Médio

Por Max Maciel

Primeiramente, gratidão por poder iniciar aqui, na Caros Amigos, este espaço de diálogo. Sou Max Maciel, jovem periférico nascido e criado em Ceilândia, maior periferia do Distrito Federal, ativista social, pedagogo de formação e especialista em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça pela Universidade de Brasília (UnB).

Minha luta é contribuir para a transformação social das periferias. Para isso, dialogo para que possamos, de fato, chegar à tão falada “cidade que queremos”. Quero abrir este espaço falando sobre educação. Recentemente, o “novo governo” propôs uma reforma no Ensino Médio, sem dialogar com nenhum movimento, alunos ou professores.

Se engana quem acredita que, se fosse com a presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff, estaríamos apoiando esta “reforma”

 

Uma coisa deu certo sobre a reforma do Ensino Médio: foi gerado o debate. Mas isso não veio de agora. Estamos debatendo a educação desde o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o Plano Nacional de Educação (PNE), as Conferências de Juventude, os 10% do Pré-Sal e demais fóruns. Se engana quem acredita que, se fosse com a presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff, estaríamos apoiando esta “reforma”. Fala isso quem sequer participou de algum destes espaços de discussão.

O único ponto convergente entre nós e eles éque o Ensino Médio precisa ser reformulado. Afinal, quando os jovens chegam a este ciclo a evasão escolar é grande. Minha pergunta é: qual o motivo de se baixar uma Medida Provisória sem o debate com a sociedade? Achar que se Dilma tivesse feito o mesmo nós não protestaríamos é inocência.

A discussão sobre o Ensino Médio passa para além da reforma curricular. Envolve a estrutura arquitetônica das escolas, as formas como os conteúdos são ensinados, além, claro, a valorização dos professores. Há várias experiências pedagógicas e arquitetônicas que, quando integradas, aumentam o estímulo ao ensino, à educação e à formação de nossos jovens. Há, também, referências didáticas e históricas de boas práticas para uma educação que podemos chamar de "libertadora", como dizia o nosso educador Paulo Freire.

Mas a gente sabe que outras questões precisam ser colocadas.

Primeiro, precisamos reformular os currículos dos ensinos Fundamental e Médio. Hoje, a escola integral se assemelha muito ao internato, e são modelos completamente diferentes. As escolas integrais devem ser, na verdade, educação integral. Acredito na adoção dos bairros-escolas, ou seja, a escola passa a se associar ao território. Isso integraria comunidade e escola, gerando um grande mapa de georreferenciamento com as potencialidades daquele território, como os pontos de cultura, as vilas olímpicas, as associações culturais e recreativas, por exemplo. Isso faria com que todos os cidadãos participassem do processo de ensino.

Se o Brasil, sob a ótica do governo Temer, tem de ser modernizado, que o faça em todas as escolas, em especial as periféricas, com laboratórios de informática, de audiovisual, de fotografia e de dança. Queremos músicas aos sinos, internet livre para as escolas e praças do DF e Entorno, e intercâmbio entre as escolas.

É fundamental estimular a criação de grêmios estudantis e eleições transparentes para a criação do Conselho Escolar; fortalecer o controle social

Fortalecer a gestão democrática e melhores condições de ensino aos professores é outro passo fundamental para uma educação libertadora. É fundamental estimular a criação de grêmios estudantis e eleições transparentes para a criação do Conselho Escolar; fortalecer o controle social; e ajudar na criação execução e elaboração do Projeto Pedagógico e de investimentos prioritários para a escola.

Acreditar nos alunos como membros permanentes na autogestão dos espaços listados, estimulando para o surgimento de um novo ciclo de interação com a escola. Além da sala de aula, a aprendizagem acontece na troca de ideias, no diálogo e na interação com sua comunidade e na diversidade cultural dos alunos.

Diante disso, eu não acredito nessa “reforma” como solução para os nossos problemas educacionais. Pelo contrário: se sua implementação não for muito bem acompanhada, ela pode gerar, ainda mais, exclusão social.

O cenário piora muito mais quando o governo Temer defende a PEC 241 que estabelece o congelamento dos gastos sociais por 20 anos, e aprova o fim da obrigatoriedade da Petrobrás na exploração do Pré-sal, colocando em xeque o uso dos 75% dos royalties para a educação.

A defesa da nossa educação pública pede atenção e resistência.


♦ Max Maciel, jovem periférico nascido e criado em Ceilândia, maior periferia do Distrito Federal, é ativista social, pedagogo de formação e especialista em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça pela Universidade de Brasília (UnB).

 

http://www.carosamigos.com.br/index.php/colunistas/226-max-maciel/8107-a-exclusao-social-da-reforma-no-ensino-medio 




ONLINE
16