Ensino ainda é precário

Ensino ainda é precário

Qualidade do ensino ainda é precária, mas nunca tivemos uma geração de crianças com características tão favoráveis ao aprendizado

POR ANTÔNIO GOIS

Hoje começa o ano letivo na maioria dos colégios públicos e privados do país. Cerca de 40 milhões de estudantes de todas as etapas da educação básica voltarão à sua rotina de deslocamento para as escolas, onde passarão ao menos quatro horas por dia aos cuidados de professores, diretores e funcionários.

Tradicionalmente, o início das aulas é um momento de renovar a esperança em nossa capacidade de fazer com que essas crianças e jovens aproveitem todo o seu potencial. O momento atual, porém, não é de otimismo. As projeções preocupantes do cenário econômico do país acabam por contaminar a expectativa de melhoria em quase todos os setores. Não bastasse essa onda impulsionada pela economia, temos também razões de sobra para insatisfação com os atuais indicadores educacionais.

Hoje, quase metade (46%) dos jovens brasileiros completa 19 anos de idade sem ter concluído o ensino médio, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE.  Do grupo que consegue chegar a esta última etapa da educação básica, apenas 9% têm aprendizado adequado em matemática e 27% em língua portuguesa. O ensino médio é o nível com indicadores mais preocupantes, mas não é onde começam os problemas. No terceiro ano do ensino fundamental, apenas 10% dos estudantes conseguem escrever textos adequados ao final do ciclo de alfabetização, de acordo com a Avaliação Nacional da Alfabetização.  

São indicadores preocupantes, que mostram que há muito a avançar. Ao mesmo tempo, por mais paradoxal que pareça, nunca tivemos um cenário tão favorável para fazer com que todas as crianças aprendam. Não podemos esquecer que pagamos até hoje a conta de nosso atraso histórico no setor. Em 1940, o Censo do IBGE indicava que setenta em cada 100 brasileiros de 7 a 14 anos estavam fora da escola. Hoje, esta relação é de apenas uma criança sem estudar para cada 100 da mesma faixa etária.

A atual geração tem também pais com escolaridade muito menos precária. Em 2014, 59% das mulheres de 20 a 49 anos tinham ensino médio completo, proporção que era de apenas 16% em 1981. E as crianças ingressam na escola mais cedo. Hoje, 90% já estudam aos cinco anos de idade. Em 1992, eram apenas 43%. Em resumo, podemos dizer que hoje quase todas as crianças de 7 a 14 anos estão na escola, têm pais mais escolarizados, e começaram a estudar mais cedo. Além disso, graças à expressiva queda nas taxas de fecundidade em todos os grupos sociais, essa população em idade escolar já está em queda, o que facilita a tarefa de aumentar os investimentos por aluno.

Há muito a avançar, e um abismo ainda nos separa dos indicadores educacionais dos países desenvolvidos. Porém, com todas essas variáveis jogando a favor, não podemos mais colocar exclusivamente nas crianças a culpa por nossos fracassos. Esta é a geração com melhores condições para aprender que já tivemos em nossa história. Falta aproveitar essa oportunidade.


http://blogs.oglobo.globo.com/antonio-gois/post/qualidade-do-ensino-ainda-e-precaria-mas-nunca-tivemos-uma-geracao-de-criancas-com-caracteristicas-tao-favoraveis-ao-aprendizado.html




ONLINE
25