Educação fora da caixa

Educação fora da caixa

Educação fora da caixa: professora universitária utiliza espaços não formais como auxílio na educação

Alunos da UFF após sessão da peça ‘O Escânsalo Philippe Dussaert’Alunos da UFF após sessão da peça ‘O Escânsalo Philippe Dussaert’ Foto: Priscila Fialho

Ramon de Angeli

Sala de aula, carteiras enfileiradas, quadro negro, professor de um lado e alunos do outro. Essa seria uma típica classe de qualquer instituição de ensino do país quando o assunto é transmitir o conteúdo. Mas para alguns profissionais da educação, por exemplo, o estudante necessita de estímulos maiores para se manter atento e interessado.

É o caso de Claudete Daflon, professora de Português-Literaturas do curso de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em suas aulas, que vão desde o primeiro período em diante, o importante é diversificar e integrar. Na programação do seu curso, a professora investe em saídas do espaço geográfico da instituição para proporcionar experiências que dialoguem com o que está sendo debatido dentro da sala de aula.

—Sempre que possível eu tento acrescentar algo que lhes permita compreender que o que discutimos na sala de aula não está restrito aos muros da universidade. Nenhum conhecimento tem realmente importância se não estiver integrado à vida e é comum que os alunos vejam o que aprendem como algo desconectado de suas existências.

Professora Claudete DaflonProfessora Claudete Daflon Foto: Arquivo Pessoal

Para ela, as saídas que faz com os alunos são práticas coerentes com o que pensa sobre educação e acredita que autonomia intelectual deveria ser a meta de todo processo educacional.

—É necessário buscar a participação ativa do estudante, fazer com que ele se envolva em processos de discussão e na formulação de ideias.

De um modo geral, a resposta a esse tipo de proposta é heterogênea, e que sente que algumas vezes há resistência daqueles que entendem como perda de tempo, já que não considerariam os eventos fora da universidade como aula --Afirma Claudete.

Segundo ela, há também aqueles que desejam muito participar, especialmente porque o acesso que têm à programação cultural é bastante restrito.

—Essa resistência expressa uma cultura escolar vigente entre nós, achamos que a educação só acontece dentro da sala em um formato caracterizado pela exposição e recepção do saber. Impressiona também a carência de oportunidades em municípios e bairros mais pobres. Para ir a uma exposição, ao teatro ou mesmo assistir a determinado filme, é preciso deslocar-se e isso fica bastante custoso. Daí a adesão ser muitas vezes parcial.

Apesar das dificuldades, quando conseguem fazer acontecer, os resultados são incríveis, afirma a educadora.

—O modo de ver as coisas muda, porque estudos, vivências e discussões se juntam e as coisas passam a fazer mais sentido. Em termos de aprendizado, não há como negar: os alunos saem modificados. É uma experiência e tanto para todos.

Na última sexta-feira (9), como proposta para fomentar o assunto que estavam estudando, Claudete não pensou duas vezes e levou sua turma para assistir ‘O escândalo Phillipe Dussaert’, monólogo com ator Marcos Caruso que trata do universo da arte contemporânea.

Marcos Caruso visto de cima em ‘O Escândalo Philippe Dussaert’Marcos Caruso visto de cima em ‘O Escândalo Philippe Dussaert’ Foto: Allan Reis

Amanda Braga, sua aluna na Uff, afirmou ter sido uma experiência que enriqueceu o debate na sala de aula:

—Todos nós saímos de lá repletos de inquietações que, além de dialogarem com tudo que vínhamos discutindo em sala, faziam refletir sobre o lugar da arte na nossa sociedade. A disciplina ministrada pela Claudete conversa diretamente com a peça, quando relativiza o papel do crítico de arte e debate sobre como o discurso pode alavancar ou acabar com uma carreira.

Aluna Amanda BragaAluna Amanda Braga Foto: Arquivo Pessoal

Para Josuel Ribeiro, que nunca havia ido ao teatro, o conteúdo que que estavam estudando na sala de aula o ajudou a entender melhor o espetáculo.

—Foi muito emocionante alcançar um espaço que achava não ser acessível para mim. O conteúdo que estamos trabalhando em sala de aula faz um paralelo com o que vimos no teatro e ficou mais fácil de compreender.

Para o ator Marcos Caruso, não existe dúvida de que tudo que é vivenciado fora da classe é melhor assimilado pelo aluno e que esse estilo de educar seria essencial para a formação intelectual dos estudantes.

—Quero parabenizar a professora Claudete. Essa atitude contribui para a melhoria da formação acadêmica e presta enorme serviço ao setor cultural do país.

Marcos Caruso em ‘O Escândalo Philippe Dussaert’



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