Alunos negros e de baixa renda

Alunos negros e de baixa renda

Cresce índice de alunos negros e de baixa renda nas faculdades federais

Estudantes pobres passaram de 40,66% em 2010 a 51,43% em 2014, diz pesquisa

POR LETICIA FERNANDES / PAULA FERREIRA      

Sala de aula na Universidade Federal Fluminense - Eduardo Naddar / Agência O Globo

As parcelas de estudantes pretos ou pardos e de baixa renda cresceram nas faculdades federais brasileiras ao longo dos últimos anos. É o que mostra uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). O relatório evela que dois terços dos alunos entrevistados, ou 66,19%, vêm de famílias com renda per capita de até 1,5 salário mínimo, um aumento de 50% no acesso desses jovens ao ensino público superior em relação à pesquisa anterior, feita em 2010. Naquele ano, o percentual de alunos vindos de famílias desta faixa de renda era de apenas 44%.

De acordo com o estudo, de 2003 para 2014, o percentual de estudantes pretos nas universidades federais passou de 5,9% para 9,8%. Entre os alunos que se declaram pardos, o avanço foi maior, de 28,3% para 37,7%. Em movimento inverso, o percentual de alunos que se dizem brancos nas salas de aula dessas instituições de ensino recuou de 59,4%, em 2003, para 45,6% em 2014.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 53,6% da população se declara preta ou parda. Os brancos são 45,5%.

A pesquisa mostra ainda que o percentual de alunos com renda familiar de até três salários mínimos saltou de 40,66%, em 2010, para 51,43%, em 2014. Por outro lado, o índice de alunos com renda familiar de mais de dez salários mínimos passou de 16,7%, em 2010, para 10,6%, em 2014.

Para a presidente da Andifes, Ângela Paiva Cruz, a pesquisa revela que "cai o mito" de que as universidades federais são instituições de elite e os números reforçam a importância das políticas de acesso ao ensino superior, como a política de cotas:

- Cai um mito repetido por muitas décadas, de que as universidades federais eram universidades de elite, e esse argumento justificou por muito tempo a defesa do fim da gratuidade do ensino. Temos hoje, pela pesquisa, dados que vão contra isso. A pesquisa aponta hoje que o ensino superior se tornou de fato mais acessível, mais popular e mais inclusivo, em grande parte devido ao sucesso das políticas de acesso e cotas - disse a presidente.

De acordo com o estudo, no que diz respeito ao aumento de pardos e pretos, embora a explicação mais óbvia aponte para uma"reinterpretação do processo de autodeclaração", com estudantes mudando sua visão sobre sua cor ou raça, as políticas afirmativas implementadas pelo governo federal nos últimos anos, como as cotas sociais, tiveram grande influência nessa mudança. Hoje, todas as instituições federais de ensino superior devem destinar 50% de suas vagas a alunos de escolas públicas, em sua maioria negros e oriundos de famílias de baixa renda.

Outro dado relevante é sobre o perfil dos estudantes nas 63 universidades federais do país: 49% dos alunos dessas instituições vieram de escolas públicas, sendo que 60,16% deles foram formados apenas pelo ensino público. A pesquisa atribui esses dados a um maior acesso desses estudantes às provas do Enem, sobretudo em municípios do interior, ao Sisu, à política de cotas e ao Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), programa que oferece assistência (auxílio moradia, alimentação, transporte, saúde, entre outros) aos alunos de baixa renda.

Os professores da Andifes apontaram ainda que 63,99% dos alunos de escolas públicas entraram nas universidades federais por ampla concorrência, o que mostra maior competitividade desses estudantes ao buscar uma vaga no ensino superior, mesmo fora das cotas.

A pesquisa aponta também um crescimento de mulheres nas universidades federais, que hoje viraram maioria e são 52% das estudantes. A presidente da Andifes alerta para um retrato universitário mais fiel à realidade brasileira.

- Hoje, podemos dizer que a cara da universidade é a cara da sociedade brasileira, a universidade hoje tem maioria feminina e maior presença popular e negra, e num futuro imediato apontamos maior diversidade étnica no mercado de trabalho em funções mais bem remuneradas - disse a presidente.

'SITUAÇÃO VEXATÓRIA'

Apesar dos avanços, 42% dos estudantes entrevistados disseram que a dificuldade financeira ainda é um entrave ao desempenho acadêmico. Segundo vice-presidente da Andifes, o professor Orlando Amaral admitiu que a situação desses alunos de baixa renda ainda é "vexatória". Ele lembrou que o Brasil tem apenas 17% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos na educação superior, e defendeu o acesso gratuito à educação:

- É bom lembrar que só temos 17% dos jovens brasileiros na educação superior, um número muito baixo. É preciso dobrar esse número, e qualquer medida restritiva, por meio de cobrança, não ajuda em nada o país a sair dessa situação vexatória - disse Amaral.

Os professores da Andifes se mostraram preocupados com o momento político que atravessa o país, e disseram temer um retrocesso nessas políticas com a provável mudança de governo.

- Defendemos uma universidade pública e gratuita. A mudança de governo é sempre preocupante, há paradigmas que podem mudar. A gente tem temores, mas não ficamos resguardados nessa temeridade, trabalhamos para que o Pnaes cresça - afirmou Ângela Cruz.

Outra crítica feita pela cúpula da Andifes foi à PEC 241, que fixa um teto de gastos públicos, enviada ao Congresso pelo presidente interino Michel Temer, e que pode limitar gastos com Saúde e Educação. Nesse momento, a PEC está sendo discutida em comissão especial da Câmara.

- Tememos a PEC 241, que de certa forma desobriga o governo a gastar os mínimos constitucionais em educação. O discurso deles não tem sido esse, mas sabemos que, a partir do momento que não se aplicam mais aqueles pisos, também não haverá responsabilização nessa aplicação, e esse é um grande fator de preocupação - afirmou Paulo de Faria, primeiro vice-presidente da Andifes.

 

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